Foco na Mídia

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sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Adeus imparcialidade: mídia também faz campanha nas eleições

Meios de comunicação progressistas à esquerda; conservadores à direita


Os últimos números do Ibope e do Datafolha mostram um país dividido. O empate técnico anunciado nos números criou uma situação política em que tudo pode acontecer. O clima é de vale tudo na política nacional.

A imprensa entrou na campanha faz tempo. Mas suas publicações nunca foram tão partidarizadas como agora.

O cidadão pode esquecer o jornalismo imparcial até dia 26, pelo menos, data da celebração do segundo turno.

Até lá, a ideia é deixar de lado a ética e a formação de opinião pública desinteressada para dar lugar ao puro discurso panfletário em jornais, rádios, televisões e revistas do país. As peças foram selecionadas e o poder está em jogo.

A imprensa brasileira está tão polarizada quanto a sociedade.

A Grande Mídia – Globo, Estadão, Veja e Folha – embarcou na campanha mais agressiva das últimas décadas.

Por outro lado, a Imprensa Progressista, que nunca escondeu sua preferência política, defende o PT dos ataques midiáticos e faz o possível para difundir o contra-ponto das informações diariamente difundidas na Grande Imprensa.

Os progressistas destacam as conquistas do PT nos últimos anos e deixam claro que Aécio pode por “tudo a perder” caso seja eleito. Supondo que Aécio acabará com as conquistas progressistas do país, a intenção é criminalizar os grupos conservadores da sociedade para difundir um “discurso do medo” que traria resultados positivos para a campanha petista ao mostrar o lado negativo das pautas dos tucanos.

Dessa forma, a oferta informação nacional chega num equilíbrio que corresponde com a polarização da sociedade: cada meio de comunicação defende um dos projetos de governo que disputam a presidência – o neoliberal conservador ou o desenvolvimentista progressista.

Por outro lado, a Grande Mídia joga de forma oculta, como de costume. Somente o Estadão declarou, em editorial, seu apoio ao PSDB. Mas conglomerados como as Organizações Globo ignoram o apartidarismo – que, está declarado em sua Seção I, letra “i” - para conseguir mais votos aos tucanos.

Através de uma retórica imperceptível para os desatentos, os principais jornais do país questionam insistentemente a conduta petista e enfatizam seus escândalos de corrupção enquanto desconstroem a campanha do mesmo – a Folha, por exemplo, vem informando como e onde o partido atacará o rival para defender os tucanos das investidas.

Os grandes meios de comunicação também recebem informações privilegiadas que são muito bem aproveitadas em sua cobertura diária.

Não é a primeira vez que a campanha da imprensa conservadora se nutre dessas informações vazadas por atores políticos interessados e desconhecidos, por enquanto – o depoimento de Paulo Roberto Costa, delator do escândalo da Petrobrás, à Justiça Federal de Curitiba foi realizado na quarta-feira (08/10) e na quinta (09/10) as informações do mesmo já estavam na capa de grandes jornais.

Alguém "de dentro" facilitou essas informações aos jornais.

Essa prática não é completamente condenável. Grandes escândalos de corrupção foram desvendados com infiltrações desse tipo.

Porém, essa conduta da imprensa oferece dois problemas: as denúncias não foram averiguadas nem julgadas, mas são publicadas com tanto destaque que tem efeitos políticos similares à prisão de alguém da alta cúpula do partido.

Além disso, o leitor que acredita na neutralidade dessa imprensa não imagina que a mesma esconde os escândalos tucanos para destacar somente os petistas. O falso apartidarismo engana a sociedade no geral.

Enfim, nessa campanha, ambos os setores da imprensa se opõem como evolucionistas e religiosos discutindo a origem do ser humano. Defendem com unhas e dentes o projeto que acreditam ser melhor para o Brasil e farão o possível para levar o candidato que representa esse modelo ao Palácio do Planalto.

A derrota nas urnas significa perda de poder econômico e político de um dos setores da imprensa.

Nesse sentido, a Imprensa Progressista tem mais a perder que a Grande Imprensa.

Apesar dos governos petistas terem ampliado a quantidade de meios de comunicação que recebem publicidade governamental – medida que oferece mais renda para os jornais menores - os conglomerados de mídia continuam recebendo milhões a mais que qualquer outro jornal progressista.

O oligopólio da imprensa só teme uma possível – e improvável – democratização econômica da mídia, que limitaria suas propriedades cruzadas. Além, claro, da fragilidade que o Governo Dilma oferece às suas relações políticas e comerciais com os americanos.

Porém, a Grande Imprensa continuará existindo como hoje independente de quem esteja no poder.

O mesmo não pode ser dito aos meios de comunicação progressistas.

Aécio Neves é reconhecido por sua tendência de calar jornalistas – os mineiros sabem bem disso – e provavelmente vai suprimir a publicidade governamental dirigida à jornais que se opõem às suas ideias.

Para o jornalismo regional e o progressista, isso é uma tragédia. Muitos meios de comunicação fechariam e, com isso, a oferta de informação plural, que é direito do cidadão,seria diminuída e reduzida, ampliando o poder de influência dos grandes jornais do país.

Menos pluralidade nos meios de comunicação significa menos diversidade de opiniões e, consequentemente, menos estabilidade na Democracia.

Portanto, a imprensa progressista tem muito mais a perder que a Grande Imprensa.

E o PT perde junto com seus apoiadores.

A volta do panorama midiático dos anos 90 tiraria voz e poder de influência da esquerda. 

Não ter oposição da mídia progressista é o cenário que todo conservador deseja para se perpetuar no poder.

O aumento de conservadores no Congresso nacional já favorece a aplicação de medidas direitistas no Brasil. Livrar-se da imprensa progressista é tudo que eles precisam para ter aplicar suas pautas na sociedade brasileira.

Assim sendo, a vitória de Aécio nas eleições do dia 26 seria a cereja do bolo do poder da direita: a esquerda estaria condenada a perder grande parte da influência que conseguiu nas últimas décadas e o país entraria na etapa mais conservadora do século XXI.

Um comentário:

  1. O governo está colhendo os frutos de não ter promovido a Lei dos Meios.

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