A reeleição de Dilma
Rousseff depois de uma das campanhas mais polarizadas, equilibradas e radicalizadas da
história do Brasil foi a salvação da esquerda, que quase viveu uma derrota
abismal nas eleições de 2014.
Tal explicação encontra
razão nas causas que originam alguns valores direitistas: a insegurança em si
mesmo e a fobia social levam o indivíduo a abominar “estrangeiros” – que para o
brasileiro de classe média são os pobres de outras regiões do Brasil – e outras
ideologias, como a progressista.
A insegurança gera medo de
mudar, enquanto a fobia social cria o ódio de quem pensa diferente.
Curiosamente, esse panorama
encaixa com perfeição no cenário eleitoral desse ano.
Muitos entre os derrotados
de ontem ainda vociferam críticas e palavras raivosas a nordestinos e petistas,
padrão que comprova o fortalecimento dos valores conservadores na sociedade
brasileira.
Acontece que o Brasil sempre
foi um país em que esses valores dominaram.
A abominação por pautas
progressistas existe desde antes de João Goulart e é prova de que o brasileiro sempre
pede mudança, mas teme e se opõe justamente às medidas que promovem transformação
social, econômica e política.
Aqui,
o legal é mudar sem esforço e avançar sem sacrifício. Por isso muita gente acredita que eleger um ou outro candidato já é suficiente para a realização de mudanças estruturais no país.
Esse temor aparece explicitamente
nas alucinadas denúncias do “Golpe Comunista em curso”: o discurso do medo
convence quem teme. E Aécio soube aproveitar muito bem essa vontade e temor à
mudança. Quase venceu essas eleições com apoio de uma mídia que pouco a pouco
vai perdendo a máscara do apartidarismo.
A sórdida campanha da
revista Veja – que adiantou a publicação de sua edição na semana passada – e os
gritos de “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo” durante o discurso de Dilma
foram essenciais para derrubar a máscara da Grande Imprensa.
A Internet é rápida, e hoje
só não vê o partidarismo político da mídia quem não quer.
Aliás, a opção de ignorar
certos fatos generalistas em detrimento de outros limitados e pessoais é mais
um detalhe das eleições de 2014.
Enquanto muitos jovens se
politizam, diversos cidadãos “maduros” esquecem o estudo e a busca por uma maior compreensão política para acreditar em
conceitos subjetivos derivados imediatamente em intolerância ideológica e
anti-democrática.
Essa perspectiva
individualista e extremamente partidária cega os cidadãos, que literalmente
ignoram informações esclarecedoras para dar importância exclusiva ao que dizem certas
pessoas, partidos ou meios de comunicação de sua confiança.
Dessa forma são formados
verdadeiros exércitos partidaristas que também são responsáveis
por disseminar intolerância com a ideologia alheia.
Essa incapacidade de enxergar os problemas de um dos partidos polarizantes é tudo que a mídia e os políticos necessitam para obter seus
interesses particulares sem uma resistência geral da população.
Ou seja, quando só o eleitorado rival questiona a postura de um partido, é fácil ignorar a reclamação e supor que a oposição atua por interesse próprio - quando a própria militância questiona e exige uma certa postura, por outro lado, é complicado dizer não, pois a situação condiciona os resultados eleitorais desse partido.
A oposição ganha uma importância extra, pois é a única que realmente pode revelar os
problemas do adversário.
E, assim sendo, a sociedade
brasileira tem um problema, pois a formação da opinião pública do país se concentra nas mãos de cinco famílias que controlam os grandes
conglomerados de imprensa do país.
Nesse caso há polarização,
mas não equilíbrio.
Existe o contraponto,
difundido na imprensa progressista, que tem um espaço fixo e crescente na
Internet.
Porém, as diferenças de
audiência e de lucro são tão absurdas que a formação da opinião pública se
desvirtua em uma guerra informativa e ideológica que favorece desproporcionalmente
o lado conservador.
É por esse desequilíbrio que
a maioria das pessoas só vê corrupção no PT.
A polarização chegou ao seu nível
máximo, e foi favorecida pelo excesso de parcialidade da mídia.
De ambas as mídias.
Para equilibrar essa
situação seria necessário limitar o oligopólio midiático através da
regularização econômica do quarto poder.
Somente essa medida pode
equilibrar a representatividade de ideologias na mídia e na formação da opinião
pública brasileira.
Mas obviamente essa ideia
encontrará muita oposição no lado conservador da polarização.
O PT irá conviver com um
conservadorismo raivoso e cheio de rancor durante os próximos quatro anos.
Para conseguir uma melhora e
um avanço das pautas progressistas, necessitará coragem e o apoio dos
movimentos sociais.
Deverá sacrificar ganhos
políticos para mudar o país de verdade sem temer represálias dos conservadores.
Nesse sentido, o Prefeito de São Paulo Fernando Haddad aparece como um ótimo
exemplo.
Haddad nunca se importou muito
com sua reeleição ou com seu índice de aprovação.
Faz o que acredita ser
correto e defende sua posição com fé e vontade.
Se o PT temer perdas
políticas no âmbito Federal, não promoverá nenhuma mudança estrutural no país.
E nesse caso a sociedade
continuará sujeita ao crescimento instantâneo dos valores conservadores.
Dilma deve, portanto,
aproveitar o momento de euforia política e de máximo apoio de sua militância
para levar adiante projetos ousados como a Democratização da Mídia ou a Reforma
Política.
Somente essas reformas
profundas podem realmente transformar o país.
E o PT deve se esforçar ao
máximo para cumprir esse objetivo, caso contrário sairá do poder em 2018 sem
ter conseguido absolutamente nada duradouro para a sociedade brasileira.
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