Foco na Mídia

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segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Conservadorismo e blindagem da mídia garantem eleição de Alckimin



Vendo o panorama geral do Estado de São Paulo, não é difícil encontrar os motivos que elegeram Geraldo Alckimin no primeiro turno.

A falta do recurso básico da vida, a água, foi a polêmica final de um Governo que hoje não perde o apoio da população por nada.

O contexto político explica a vitória fácil dos tucanos.

A característica conservadora do eleitorado, a alta rejeição a outros partidos, a tendência de responsabilizar as prefeituras antes do Governo do Estado e a boa e velha blindagem que os tucanos recebem da Grande Mídia são os principais fatores que explicam a preferência do eleitorado paulista.

O Estado de São Paulo sempre teve tendências conservadoras. A capital já elegeu candidatos mais à esquerda– como Marta Suplicy, Luiza Erundina ou o próprio Fernando Haddad. Mas no interior do Estado mentalidade dominante é absolutamente conservadora.

Essa ideologia aumentou com as altas taxas de imigração do nordeste nas últimas décadas.

Com a vinda massiva de mão de obra de outros Estados, o paulista passou a vincular os problemas das cidades com a presença dessas pessoas.

Segundo artigo de William Nozaki publicado na Carta Maior, “a falta de planejamento político, a ausência de investimento e a carência de equipamentos” não são vistos como causas dos problemas sociais do Estado, pois as pessoas tendem a responsabilizar a imigração constante de pessoas.

Essa mentalidade explica por que os paulistas costumam culpar o resto do Brasil pelos problemas de sua cidade.

A frequente imigração aumenta a fobia contra o outro e incentiva a falta de segurança sobre si, sentimentos que são minimizados pelos chamados valores conservadores – como intolerância, fanatismo político, orgulho próprio e egocentrismo.

Considerando que hoje o Nordeste do Brasil tem uma preferência massiva por Dilma Rousseff, o pensamento de que os problemas de São Paulo vêm dessa região do país cresce junto com o preconceito conservador que existe, principalmente, no interior do Estado.

Com isso, o índice de rejeição à políticas de esquerda também aumentou.

O PT é considerado inimigo do Brasil no Estado mais rico da Federação.

Essa radicalização conservadora cresceu durante os anos dos Governos Lula e Dilma e favorece o fanatismo partidário, que faz com que eleitores reclamem dos problemas de outros partidos enquanto ignoram os do que apoiam.

Ou seja, a maioria dos eleitores de Alckimin conhece bem os problemas do PT, partido que abominam, mas, por apoiar cegamente os tucanos, não costumam lembrar os erros do PSDB.

Alckimin ficou intacto mesmo com a enorme quantidade de erros de gestão e escândalos de corrupção do Estado.

Essas características do eleitorado têm forte influência nos resultados de ontem (05/10), mas não são os únicos motivos da vitória de Alckimin.

As pessoas costumam dar mais atenção à medidas das Prefeituras, deixando de lado as ações do Palácio dos Bandeirantes.

A proximidade das primeiras faz com que suas decisões apareçam mais para os cidadãos que as ações do Governo do Estado.

Com isso, os prefeitos têm relação mais próxima e recebem elogios ou culpas de medidas que em ocasiões nem correspondem a eles.

Essa tendência da sociedade também ajuda o Governador.

Mas a blindagem da Mídia é um fator mais importante na equação que resultou na eleição de Alckimin no primeiro turno.

A Grande Imprensa conta com audiência massiva da sociedade e credibilidade inquestionável de muitos cidadãos.

Quando a mesma não relaciona o nome de Geraldo Alckimin a problemas que surgiram em sua gestão, o governador simplesmente continua isento de culpa.

A mídia vinculou – sem maiores destaques- o nome de José Serra no escândalo dos trens de São Paulo. Porém, deixou Alckmin fora de um escândalo que envolveu a cúpula do Governo do Estado.

A eleição de José Serra mostra que o eleitorado paulista não se preocupa muito com a corrupção do PSDB. Mas a postura passiva da mídia nos escândalos tucanos sem dúvida exerce influência nesse eleitorado.

A falta de água no Estado também não afetou o Governador.

A grande maioria das notícias sobre o Sistema Cantateira trata os récords da baixa do volume de água, mas poucas reportagens investigativas abordam as origens reais do problema.

A seca obviamente tem influência. Afinal de contas, 2014 realmente foi um ano com índice de chuvas bem menor que a média histórica.

E em anos que o clima ajudou, não faltou água.

Porém, a falta de investimento é real e fez com que o sistema operasse sem segurança suficiente para suportar medidas adversas, “detalhe” que, segundo critérios jornalísticos, não foi suficientemente explorado pela mídia.

A privatização de metade da Sabesp durante o Governo tucano e a distribuição de 60% do lucro (!) entre acionistas agrava o problema e concentra o foco de críticas da oposição.

Esses detalhes saíram constantemente em veículos de comunicação da Imprensa Alternativa – como este ou este -, no entanto, não foram explorados em profundidade pela Grande Mídia.

Esses meios de comunicação abordaram o problema pontualmente, mas ficaram longe de destaca-lo de forma proporcional à sua gravidade e de realizar uma cobertura profunda que analisasse os responsáveis e sugerisse medidas futuras.

Considerando a rejeição ao PT no Estado, publicações desse contexto favoreceriam a candidatura de Paulo Skaf e poderiam até levar a disputa ao segundo turno.

Mas a mídia resolveu “ajudar” o partido que compra milhares de assinaturas para escolas estaduais e acabou deixando a opinião pública sem detalhes fundamentais do seríssimo problema hídrico que o Estado enfrenta.

Se, por outro lado, o Sistema Cantareira fosse responsabilidade da prefeitura de Fernando Haddad, o PT sem dúvida teria que dar muitas explicações. Ainda mais considerando o conservadorismo do eleitorado.

A crise de água possivelmente teria uma seção especial nos grandes jornais – assim como o Mensalão ganhou durante o julgamento - e a cobertura informativa dos fatos seria completamente diferente.

Jornalistas estudariam as prioridades do Governo do Estado e diriam à população que faltou planejamento e investimento, mesmo com a forte seca que afeta a cidade. O PT simplesmente não conseguiria se reeleger se fosse o responsável pela Sabesp.

Mas com os tucanos a cobertura é diferente.

O oligopólio da mídia evitou esses problemas para Alckmin.

Portanto, a vitória do Governador em primeiro turno não é obra do acaso.

Existe todo um contexto social que explica a manutenção de Geraldo Alckimin no Palácio dos Bandeirantes.

O paulista no geral exige turno no poder. Mas só em Governos que não o agradam.

Não veem problema em ter um partido governando durante 20 anos se o mesmo tem viés conservador.

Afinal, os paulistas consideram que os problemas de sua terra são sempre causados pela esquerda ou pelos outros Estados. Para eles, o PSDB nunca fez nada de errado.

Foi essa convicção do eleitorado que deu a vitória a Alckimin no primeiro turno.

E é essa mesma convicção cega que pode devolver o poder aos tucanos caso o PT não consiga convencer a parte “marinista” do eleitorado até o dia 26 de outubro.

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