Foco na Mídia

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terça-feira, 18 de novembro de 2014

A intolerância da extrema-direita com o repórter do CQC

 
Manifestante com Guga Noblat na manifestação do sábado (15/11)

O repórter Guga Noblat, do CQC teve sérios problemas para gravar uma matéria na manifestação pelo Impeachment de Dilma no dia 15 - o vídeo abaixo mostra a matéria completa e este link leva ao vídeo gravado pelo manifestante que está ao lado do repórter na foto acima.



Os repórteres do CQC têm o costume de provocar seus entrevistados, mas, nesse caso, Guga sentiu na própria pele a falta de respeito e a intolerância com as opiniões do próximo.

Os manifestantes xingaram o repórter, o empurraram, derrubaram seu microfone, provocaram, disseram que ele faz parte da imprensa "comprada" e complicaram ao máximo o trabalho da equipe da Bandeirantes.

Tudo isso pode ser represália pela cobertura que a Grande Imprensa realizou na última manifestação pelo Impeachment de Dilma Rousseff, eleita há três semanas.

Naquela edição, jornalistas da Folha e do Estadão fizeram coberturas que destacaram os pedidos de intervenção militar. Foram chamados de chapa-branca e sofreram perseguições nas redes sociais.

O curioso é que o Guga Noblat, o repórter agredido, é filho de Ricardo Noblat, colunista do jornal O Globo que insiste em atacar a imprensa alternativa, acusando-a precisamente de ser chapa-branca – o termo deriva das chapas brancas dos carros oficiais e no jornalismo faz referência a uma imprensa que defende o Governo e/ou seus órgãos a qualquer custo.

Ou seja, o pai, colunista do maior conglomerado de mídia da América Latina, induz sua audiência a acreditar que parte da imprensa está comprada pelo PT, e o filho, que foi cobrir a manifestação do sábado, foi atacado pelos manifestantes por pertencer justamente a esse setor de imprensa que supostamente faz parte de um fantasioso regime totalitário do proletariado.

É uma contradição digna da extrema-direita.

Pelo visto, os manifestantes consideram que todos meios de comunicação são chapa-branca.

Pausa para risadas.

Quer dizer então que a imprensa brasileira foi cooptada pelo PT? Claro, diriam os manifestantes; o Brasil vive uma Ditadura comunista.

Calma. Outra pausa - agora para lamentar o nível de conhecimento político de alguns e para pensar em possíveis interpretações objetivas do acontecimento.

A acusação teria sentido se somente for levada em conta a enorme quantidade de dinheiro público dirigida aos grandes conglomerados de mídia – só a Globo, que emprega o pai do repórter do CQC, embolsa mais de 400 milhões de reais por ano em publicidade oficial do Governo Federal.

O Estado ainda é o principal anunciante do país e isso pode ser suspeito para os manifestantes indignados da Paulista.

Porém, se esse detalhe fosse suficiente para comprar linhas editoriais e jornalistas, até a Editora Abril seria petista, pois as revistas impressas da editora recebem rios de dinheiro público há muito tempo.

Mas não.

A Grande Mídia brasileira no geral tem liberdade para fazer a cobertura que deseja.

O problema é que a extrema-direita exige uma cobertura digna de Rodrigo Constantino e Felipe Moura, blogueiros da revista Veja.

E obviamente os veículos de comunicação “imparciais” da Grande Mídia não compactuam com as fantasias que esses jornalistas escrevem.

Preferem uma cobertura mais séria e sutil ideologicamente, que ganhe a confiança da audiência por ser supostamente neutra e desinteressada.

E quando a sociedade acredita nesse apartidarismo que só existe na formalidade, os conglomerados de imprensa estão prontos para usar enfoques tendenciosos e técnicas de manipulação que induzem as pessoas a acreditarem em determinados pontos de vista, sem sequer conhecer quais são as outras interpretações dos fatos cotidianos.

E é nessas horas que a Grande Imprensa contribui para a desinformação de cidadãos e, consequentemente, com a intolerância política que promove a intolerância.

Acontece que a Grande Imprensa está menos à direita que os manifestantes.

Os conglomerados de imprensa são perfeitamente representados pelo PSDB. E, como sabemos, os manifestantes consideram que até alguns políticos do principal partido de oposição são petistas, como acusaram o ex-deputado federal Xico Graziano, quando ele se opôs aos pedidos de intervenção militar na última edição da manifestação.

Os manifestantes de extrema-direita ainda estão nos anos 60. Lutam contra comunistas e alguns pedem uma “Revolução” para conter o avanço do PT, como se Dilma fosse tão revolucionária quanto Marighella.

Porém, vivemos em uma Democracia e até a extrema-direita tem direito de se pronunciar.

É necessário dar a essas pessoas justamente o que elas recusam a oferecer: respeito, tolerância e conhecimento.

Qualquer outra postura incentiva o ódio e as agressões anti-Democráticas que aconteceram esse fim de semana.

E isso é o último que nossa sociedade despolitizada necessita nesse momento.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Operação Lava Jato reforça Impeachment, neoliberalismo ou Reforma Política?




A manifestação pelo Impeachment a Dilma e as prisões de executivos na Operação Lava Jato, que investiga os casos de corrupção na Petrobrás, dividem a sociedade e a mídia.

Como sempre, a divisão básica acontece entre Direita e Esquerda.

Enquanto a Grande Mídia, que representa o espectro conservador da imprensa, aproveita os pedidos de Impeachment e o avanço nas investigações na Petrobrás para desgastar o PT politicamente e dessa forma, ter mais influência nos rumos econômicos do país; a Imprensa Progressista interpreta o momento atual como um avanço na luta contra a impunidade e um momento que justifica a Reforma Política.

Ou seja, divisão absoluta nas interpretações e desejos.

Um lado usa os pedidos de Impeachment para justificar medidas neoliberais na economia, e o outro fortalece o discurso contra a impunidade e para fortalecer a Reforma Política que está na agenda desde o final do segundo turno.

Promover a implantação de políticas de austeridade é atualmente a principal pauta dos conglomerados de imprensa.

O país vive um momento que precede a escolha do Ministro da Fazenda, decisão que apontará os rumos econômicos do país nos próximos anos. Os conglomerados de mídia conhecem o peso dessa decisão e farão o possível para influir na escolha.

Assim sendo, aproveitam o desgaste político do Governo com a Operação Lava Jato e com os pedidos de Impeachment para enfraquecer uma nomeação mais à esquerda na pasta. 

Destacam a participação de partidos da base aliada no escândalo da Petrobrás e falam em crime de responsabilidade de Lula e Dilma no escândalo, como fez o Estadão em editorial desse domingo (16/11).

A Imprensa Progressista faz algo parecido, mas com outro foco.

Além de proteger a imagem do PT, argumentando que o país “nunca prendeu poderosos como hoje”; a esquerda midiática prefere destacar a ideia de que o escândalo da Petrobrás envolve todo sistema político, deixando claro que ele não é exclusivo dos partidos da base aliada.

Essa ideia provém do fato de que as construtoras investigadas na Operação Lava Jato estão entre as principais doadoras de campanhas de todos os partidos.

Ou seja, a imprensa progressista tem quase certeza de que as próximas revelações envolverão praticamente todas as legendas do Congresso, o que seria interpretado como um problema sistêmico, exigindo uma Reforma Política - e não um Impeachment.

Com essa postura, a os meios de comunicação progressistas evitam maiores desgastes na imagem da Presidenta e preparam o terreno para uma reforma profunda no sistema político brasileiro.

É possível concluir que sem a existência da Imprensa Progressista, Dilma teria reais possibilidades de sofrer um Impeachment nesse momento, pois essa demanda existe em grande medida em setores conservadores: Judiciário, MP, Mídia e na própria sociedade.

Suposições a parte, o momento atual é transitório: tudo depende da revelação dos nomes de políticos envolvidos nos escândalos de corrupção da Petrobrás.

Os envolvidos desconhecidos da investigação, que são os políticos, determinarão a futura postura de cada partido ou setor de mídia. Por isso hoje todos atuam com certa cautela.

Se a investigação envolver somente os partidos da base governista, a ideia de Impeachment será reforçada junto com as políticas neoliberais na economia, pois o Governo já estará desgastado politicamente e não se atreverá a comprar maiores brigas com a oposição.

Por outro lado, se for um escândalo que envolve muitos partidos, a Reforma Política ganhará mais força que nunca.

Mas, hoje, qualquer ataque exacerbado pode significar maiores perdas políticas no futuro, então todos eles são muito bem calculados.

É questão estratégica. Todos têm muito a perder, pois a hipocrisia às vezes cobra um preço caro na Política.

Quando a operação Lava Jato avançar mais um pouco será hora de definir a estratégia. Agora o país vive um momento de preparo – para Impeachment, neoliberalismo ou Reforma Política.

Só o futuro dirá o que acontece.


quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Globo e Magnoli denunciam (hipocritamente) a doutrinação de pessoas no Enem




Uma matéria publicada hoje n’O Globo destaca o debate entre acadêmicos sobre a “doutrinação” dos estudantes por meio das perguntas e respostas do último Exame Nacional de Ensino Médio – Enem 2014.

Segundo o texto, a discussão teve origem em um artigo de Demétrio Magnoli publicado na segunda-feira (10/11) no mesmo jornal carioca. Magnoli, aliás, aparece como fonte “especialista” na matéria d”O Globo junto com Simon Schwartzman, outro intelectual que simpatiza com o projeto neoliberal/conservador.

As denúncias de Magnoli falam que pelo menos seis questões teriam um viés que exalta a ideologia progressista através do “’antiamericanismo’, do ‘ódio’ à imprensa e das políticas racialistas ‘característicos’ dos governos da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, segundo o texto publicado hoje n”O Globo.

O curioso é que os próprios textos da Globo têm características que exaltam uma ideologia política: a conservadora, logicamente.

As técnicas de manipulação dos textos - como o uso e destaque de fontes “especialistas” que fazem declarações ideologicamente afins com o pensamento do jornal, a manchete que prioriza um juízo de valor altamente subjetivo e parcial e a falta de clareza na exposição das perguntas e respostas que supostamente doutrinam os alunos - são exemplos de que a crítica feita ao Enem serve perfeitamente à própria Globo e a Demétrio Magnoli, que são dois atores políticos cujo trabalho influi e, grande escala na formação de opinião da sociedade.

A análise dos “especialistas” críticos não está completamente equivocada, pois as perguntas do Enem são subjetivas, detalhe que condiciona as respostas conforme a visão ideológica do aluno.

Entretanto, com todo respeito a um dos maiores conglomerados de mídia do mundo, os textos publicados essa semana abusam da hipocrisia quando criticam o Enem por doutrinar cidadãos.

Um exame não exerce muita influência na ideologia das pessoas. Publicações da imprensa ou declarações de políticos, por exemplo, sim.

Isso porque ninguém forma opinião política enquanto realiza uma prova. O grande problema, nesse caso, é que os alunos de outras ideologias são induzidos ao erro por não entender, conhecer ou concordar com a visão progressista do mundo refletida nas perguntas em questão.

Por outro lado, textos como o de Magnoli ou a matéria d’O Globo são verdadeiros doutrinadores ideológicos.

Com um enfoque tendencioso e técnicas de manipulação ocultas, o leitor é “doutrinado” a pensar, sem perceber, que a ideologia progressista chegou ao Enem e atualmente faz lavagem cerebral nos alunos, pensamento que compactua perfeitamente com a ideologia conservadora da Globo e de Magnoli.

Essa ideologia costuma dizer que a esquerda vem dominando a mente dos alunos brasileiros. Mas são justamente textos como esses d’Globo, por exemplo, que induzem o leitor a acreditar numa determinada ideologia, enquanto a prova do Enem é um detalhe, uma questão mínima que não chega realmente a doutrinar mentes de alunos.

É certo que a doutrinação ideológica é consequência de qualquer comunicação constante e parcial, pois naturalmente influencia o receptor da mensagem a acreditar em uma das ideologias políticas.

Assim sendo, todo ator político, incluindo mídia, partidos, sindicatos, instituições, políticos, jornalistas, cidadãos, amigos, parentes e até o próprio Demétrio Magnoli “doutrinam” ideologicamente as pessoas. 

O Enem pode ser uma influencia, mas qual é o peso político de uma prova que acontece com grandes intervalos de tempo?

Não seria mais apropriado denunciar a doutrinação de atores políticos que atuam diariamente? Essa seria uma postura ética com o leitor, mas então a "doutrinação" conservadora que a Globo exerce diariamente ficaria desmascarada, então é melhor ficar quieto.

O PT, por exemplo, é outro ator que exalta uma ideologia - e a última Resolução do partido, que destaca a urgência em conseguir “hegemonia” na sociedade, é um exemplo disso. 

Acontece que a busca pela doutrinação ideológica é normal na disputa pelo poder, elemento básico da Política.

E, no Brasil, onde a polarização política domina a sociedade, essa intenção de convencer as pessoas de que uma ideologia é melhor que a outra é algo presente em praticamente todo lugar.

Essa intenção pode existir no Enem, mas é contraditório "denunciar" essa exaltação mínima de uma ideologia enquanto se ignora o fato de que outros atores - inclusive a Globo - promovem uma doutrinação ideológica mais profunda, eficiente, constante e imperceptível.

Para o cidadão, portanto, é aconselhável entender que, na Política, todos são doutrinadores.

Esse mesmo texto que você lê agora está influenciando sua ideologia, pois cria efeitos no seu conjunto de ideias e visão do mundo - ou seja, na sua ideologia em si.

Com essas palavras que você lê agora, provavelmente está imaginando que Demétrio é anti-ético, que a Globo manipula ou até que tudo dito anteriormente é mentira que provém de uma mente lavada pela ideologia socialista.

De uma forma ou de outra, essas palavras exercem influência na forma que você vê o mundo. O mesmo ocorre com os textos da Globo, da Carta Capital, da Veja; com as declarações de Aécio, de Lula, de jornalistas, amigos, parentes, etc. etc. etc.

O melhor, portanto, é compreender as virtudes e defeitos de cada ideologia, assim como as técnicas usadas para convencer pessoas, para estar livre de meias-verdades criadas por atores políticos interessados, que, longe de buscar o esclarecimento do cidadão, só pretendem realizar uma doutrinação ideológica dos mesmos para obter apoio político que será necessário em seu projeto de poder.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Escândalo da Petrobrás ganha maiores proporções e ameaça Governo

Logo da Petrobras na sede do Rio de Janeiro



Se a Grande Mídia considerou o Mensalão o maior escândalo de corrupção da história do país, o caso da Petrobrás não vai demorar para ser visto como o maior do universo.

Claro que a dose de subjetividade nessas conclusões é altíssima - principalmente considerando que os dados de corrupção são parciais por natureza - , mas com uma imprensa que mistura informação com opinião diariamente, o que se configura numa típica técnica de manipulação, é quase normal acreditar em juízos de valor desse tipo.

Independente dessa questão, o escândalo da Petrobrás já atinge um escalão altíssimo quando o assunto é corrupção nacional.

Ontem a mídia noticiou a existência de indícios, encontrados pelo Tribunal de Contas da União, de sobrepreços em obras e investimentos da estatal – alguns sem licitação - que somados chegam a 3 bilhões de reais.

Um valor que impressiona a primeira vista e que vai causar grandes estragos políticos para o PT caso confirmado.

O Presidente do Tribunal, Augusto Nardes, já falou que esse é “o maior escândalo de corrupção da história do TCU”, declaração que protagoniza manchetes nessa quarta-feira (12/11).

A tendência é que o escândalo ganhe maiores proporções nas investigações e na própria mídia, que sabe muito bem como aproveitar o momento político de exaltação ideológica e conservadorismo latente para conseguir novos adeptos às sua ideologia.

Enquanto as instituições democráticas descobrem novos fatos, a mídia procura - e encontra  - outros enfoques, declarações e ponatos de vista que servem par manter o assunto em pauta e ocultar casos de corrupção da oposição – como a prescrição da pena de Marco Tebaldi, deputado Federal do PSDB de Santa Catarina condenado ontem (11/10) pelo Supremo Tribunal Federal.

Mais uma vez, independente dessa conduta, a Petrobrás hoje vive uma situação preocupante e, politicamente, é uma mina de ouro para os conservadores. 

Muitos jornalistas estão com esse tema em mente e continuarão dando atenção ao mesmo a cada passo das investigações.

Uma matéria da Folha, por exemplo, trata sobre o conhecimento que o Governo tinha das irregularidades de obras e investimentos. O presidente do TCU declarou que “informou o Governo”, mas não foi escutado.

Esse suposto conhecimento é receita para indignação da audiência e da sociedade, consequência que pode gerar efeitos radicais na população.

Boa parte da militância petista irá ignorar as notícias da Grande Imprensa por desconfiar profundamente de sua legitimidade e imparcialidade.

Mas se aparecerem indícios concretos que relacionem políticos de alta cúpula com irregularidades na Petrobrás, os pedidos de Impeachment, que hoje são absurdos, ganham argumentos sólidos e apoio massivo.

E se isso acontecer no cenário polarizado que divide o país entre petistas e anti, tal como separa corinthianos de opositores ferrenhos, o PT terá problemas para aguentar as críticas e inclusive para se legitimar no poder.

Enfim, o cenário político hoje aponta muitos problemas para o futuro.

Caberá ao PT e à sua militância tratar esses assuntos com inteligência suficiente para não sofrer um Impeachment que enterraria o partido politicamente.
           


sexta-feira, 7 de novembro de 2014

O futuro do jornalismo depende de uma melhora técnica e ética

A ex-colunista da Folha Eliane Catanhêde

Ao todo, 13 jornalistas foram demitidos do diário Folha de S. Paulo até a última quarta-feira (05/11).

Entre os demitidos estão dois colunistas importantes para o diário paulista: Eliane Castanhêde e Fernando Rodrigues, que anunciaram na Internet seus desligamentos do jornal.

A Folha informou que as demissões foram realizadas motivos econômicos, o que naturalmente desperta a ideia de crise nos jornais impressos do país.

Ao contrário da Europa, o século XXI foi satisfatório para o jornalismo impresso de países emergentes como o Brasil. Nos últimos anos houve uma queda de circulação, mas até 2008 a curva era crescente.

A baixa atual se deve principalmente ao crescimento da demanda e oferta informativa na Internet, potencializada pelo uso de tecnologia móvel.

Com o crescimento do mercado de tablets e smartphones, o jornalismo impresso perdeu força para o digital.

É então que aparece outra crise na profissão: a de qualidade técnica e ética.

Muitas redações na Europa tiveram problemas financeiros causados pela Crise Econômica Mundial. Com isso, foram “obrigados” a cortar gastos, assim como a Folha.

Começaram pelos maiores salários, que naturalmente pertencem aos jornalistas mais experientes e melhor formados.

Assim sendo, a qualidade do jornalismo dessas redações caiu junto com a folha salarial, pois houve saída de grandes jornalistas e aumento de estagiários, que fazem um serviço similar aos sêniores, mas com menor preço e qualidade minimamente satisfatória – o que é visto com bons olhos pelos barões da mídia.

Esse detalhe já ocorre no Brasil e no futuro pode ser fatal para a profissão, pois, na Era da Informação, qualquer um pode ser jornalista.

Conhecendo os gêneros – reportagem, notícia, editorial, artigo, etc. – e entendendo um pouco da responsabilidade do profissional da comunicação, um cidadão comum pode exercer jornalismo.

As grandes diferenças entre um jornalista profissional e um cidadão são, no geral, a qualidade do texto, o correto conhecimento dos critérios do processo de produção e o conhecimento ético necessário para equilibrar as publicações.

Se as redações não apostarem nesses quesitos, perderão espaço para o jornalismo cidadão de blogs e sites, pois sua credibilidade será questionada.

A situação atual favorece esse avanço.

Segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia 2014, feita pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República –Secom -, o público ainda confia mais no jornalismo televisivo, radialista e impresso que as publicações digitais de sites e blogs.

O jornalismo impresso é o mais confiável, 53% dos entrevistados responderam que confiam “sempre ou muitas vezes” em notícias publicadas em jornais físicos. TV e rádio ficaram empatadas tecnicamente com 49% e 50%.

A pesquisa também abordou a confiança de revistas – 30% -, sites – 28% - e blogs – 22%.

Os jornalistas, portanto, devem aproveitar essa confiança para fortalecer a fidelidade do público.

Curiosamente, os dados dos entrevistados mais jovens – que têm entre 16 e 25 anos – são similares à média geral do país, o que indica continuidade de modelo para o futuro.

Por outro lado, a pesquisa também apontou que a Internet é o meio de comunicação que mais cresce no Brasil, sendo especialmente usada pela faixa etária mais baixa dos entrevistados – 78% dos entrevistados mais jovens declara acessar a rede diariamente.

Com esses dados em mãos, é possível concluir que, de fato, o futuro é digital.

Essa conclusão não significa que o jornalismo impresso acabará em um futuro não distante. Mas aponta uma baixa, principalmente ao levar em conta as relações estreitas que bebês e crianças pequenas têm com tablets, celulares e computadores.

Esse conhecimento permite previsibilidade, o que é uma oportunidade de preparo.

Na Internet, a mídia tem milhões de ombudsman - profissional de mídia que critica a cobertura de jornais. Necessita corrigir erros e manter a credibilidade para não ser questionada a ponto de perder muita audiência.

Para isso, será necessária uma autocrítica que indique com clareza as falhas atuais do jornalismo e uma posterior evolução que supere esses dilemas e afaste o jornalismo profissional do jornalismo cidadão.

Segundo editorial de Carlos Alberto Di Franco no Estadão, os problemas gerais do jornalismo atual são o engajamento ideológico que condiciona a objetividade de publicações, a escassa especialização e preparo técnico de jornalistas, a falta de apuração de informações, a reprodução acrítica de declarações não contrastadas com fontes independentes e a fácil concessão ao jornalismo declaratório.

É preciso superar esses problemas com conhecimento, qualidade jornalística e ética para não causar uma crise de credibilidade no jornalismo, pois na Era da Informação, a mentira tem perna curta – e a credibilidade também.

Se as empresas de mídia repetirem a campanha que realizaram no segundo turno, terão sérios problemas para convencer os leitores não polarizados de que realizam jornalismo sério.

O momento atual é uma oportunidade de avanço técnico e ético para o jornalista.

Ou melhor, mais que uma oportunidade, o jornalista tem a necessidade de buscar a objetividade de forma incondicional e de respeitar a função do quarto poder, que é informar o cidadão de forma isenta.

O foco deve ser, portanto, a formação de opinião, não a conquista de votos.

Qualquer postura jornalística que fuja do princípio báscio da profissão será condenada com perda de credibilidade e de reconhecimento, fazendo com que as publicações profissionais não passem de uma informação a mais entre os bilhões de notícias e artigos de opinião que diariamente correm nesse meio de comunicação chamado Internet.


quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Preconceito na mídia provém da ideologia de jornalistas

Diogo Mainardi no programa em que supostamente discriminou nordestinos


A denúncia que seis deputados federais apresentaram hoje (06/10) contra o jornalista Diogo Mainardi entra para a lista de episódios em que a liberdade de expressão supostamente ultrapassa seus limites.

Comentando o sucesso eleitoral de Dilma Rousseff no Nordeste do país, o jornalista fez declarações que, segundo a representação dos deputados, poderia “incitar posições discriminatórias e racistas na sociedade”.

Diogo disse que “o Nordeste sempre foi retrógado, sempre foi governista, sempre foi bovino, sempre foi subalterno em relação aos pobres durante a Ditadura Militar, depois com o reinado do PFL, e agora com o PT”. “É uma região atrasada, pouco educada, pouco instruída, que tem uma grande dificuldade de se modernizar, e se modernizar na linguagem”, completou.

A mídia brasileira recentemente foi palco de situações similares.

As declarações de Rachel Sheherazade no SBT Brasil e de Levy Fidélix no debate da Record para candidatos à Presidência demonstram que a liberdade de expressão deve ser usada com um mínimo de cuidado para não afetar o direito de terceiros, consequência que determina o único limite a esse Direito Fundamental.

Curiosamente, esses três episódios foram protagonizados por figuras que se encontram no espectro conservador da política – a famosa Direita.

Seria, portanto, um problema da ideologia conservadora em si? Não exatamente.

Antes de nada, é aconselhável lembrar que ideologia é o conjunto de ideias, pensamentos, doutrinas e/ou visões do mundo.

O conservadorismo é historicamente tradicional no Brasil. Como o próprio nome diz, essa ideologia se conserva.

Muitos de seus valores provêm da insegurança em si mesmo e da fobia social, sentimentos que, somados ao orgulho por cumprir certos padrões de comportamento e status exigidos pela sociedade, motivam as pessoas a discriminar aqueles que não se encaixam nesse perfil.

Assim sendo, a ideologia conservadora tende a ser intolerante com quem supostamente é inferior na fantasiosa hierarquia social.

Nordestinos, progressistas, gays, favelados, negros e adeptos de religiões minoritárias, portanto, naturalmente sofrem preconceito da tradicional sociedade brasileira.

O problema aumenta quando os formadores de opinião dessa ideologia – entre os quais estão Sheherazade, Mainardi e outros colunistas da Grande Mídia – abusam dos limites da liberdade de expressão e, em um ato que carece de planejamento e/ou auto-crítica, pronunciam palavras preconceituosas contra coletivos sociais em meios de comunicação.

Essas palavras incentivam a descriminação na sociedade brasileira, pois exercem influencia na ideologia dos cidadãos, ou seja, no modo que as pessoas veem o mundo, o que contribui para espalhar ideias preconceituosas.

Por isso a profissão de jornalista envolve uma responsabilidade enorme.

E por isso os cursos de jornalismo e comunicação social dão especial atenção à ética na profissão.

Sem o conhecimento e a aplicação do Código Deontológico no jornalismo, o profissional tende a cometer excessos que provém de sua própria ideologia.

Ou seja, discriminações na mídia acontecem quando a visão do jornalista é privilegiada frente à ética da profissão. Se fosse ao contrário, a ética motivaria o profissional a selecionar certas declarações em detrimento de outras.

Logicamente essas discriminações também acontecem na esquerda, mas possuem outro alvo, que normalmente são pessoas com recurso e poder suficiente para acionar judicialmente quem ultrapassa os limites da liberdade de expressão.

Por isso os jornalistas progressistas não são denunciados por figuras públicas, mas sim processados pela pessoa atingida.

Os alvos da direita, por outro lado, costumam ser coletivos que necessitam a tutela do Estado. Então os excessos são denunciados a instituições, como aconteceu com Mainardi.

Os casos podem parecer diferentes, mas a raiz é a mesma: a ideologia do jornalista.

Sem essa visão que olha o próximo com preconceito, ninguém cometeria excessos.

Ou melhor, com uma visão – ou ideologia - tolerante, respeitosa e compreensiva, o jornalista naturalmente evitaria a discriminação.

O mesmo serve para cidadãos.

A chave para acabar com discriminações é, portanto, superar a visão ideológica do mundo, pois ela incentiva as pessoas a atacarem grupos que se opõem ao seu modo de ver o mundo ou que atrapalham a implantação de políticas públicas ou sistemas de governo determinadas pela própria ideologia.

As punições a jornalistas por excessos dão boas lições, mas não cortam o mal pela raiz, pois a discriminação é intrínseca ao homem. Somente a modificação mental do ser humano pode realmente resolver um problema criado na consciência de uma pessoa.

Nesse sentido, é aconselhável ampliar os valores democráticos.

Tolerância, respeito, aceitação e compreensão da diversidade existentena sociedade são valores que melhoram a convivência comunitária, enquanto as visões limitadas provenientes de ideologias contrárias são mecanismos de divergência e contraste que motivam a discriminação entre semelhantes.

Todo ser humano se encaixa em uma ou outra ideologia.

Deve lutar para controlar a mesma para evitar ser controlado por ela.


O mesmo serve para os jornalistas, que, além de tudo, têm a responsabilidade de formar a opinião da sociedade. 

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Intervenção militar, Ditadura e Mídia.

Capa do Jornal do Brasil de 20 de março de 1964

Não foi a primeira vez que parte da sociedade brasileira pediu intervenção às Forças Armadas.

Obviamente o número de cidadãos que deseja a volta da Ditadura é inexpressivo e a atual situação política permite que essa ideia seja manifestada sem maiores consequências.

A Democracia brasileira é estável e até mesmo o PSDB, que em certa medida representa a Direita presente na Av. Paulista esse sábado, rechaçou os alucinados pedidos de intervenção militar.

Sorte dos democratas.

O acontecimento despertou minha curiosidade.

As feridas da Ditadura continuam abertas na mentalidade brasileira.

É um tema mal resolvido historicamente. Enquanto uns abominam completamente o regime, outros o exaltam. Essa contradição demonstra como o país não superou os 20 anos de Ditadura.

Falta um consenso histórico que defina o que realmente aconteceu. Ditaduras como a espanhola, por exemplo, terminaram e foram varridas de ruas, praças e estradas para sempre.

Depois da morte de Franco, os espanhóis viraram a página e começaram um país do zero, convocando uma Assembleia Constituinte Exclusiva, algo que não tivemos com o fim do regime ditatorial.

O Brasil escolheu outro caminho. A abertura lenta, segura e gradual. Por isso ainda temos espaços públicos que homenageiam quem merece ser esquecido.

Castelo Branco, Elevado Costa e Silva são somente dois exemplos que demonstram a dificuldade de esquecer e avançar.

Cada cidadão vê o regime de uma forma, então é recomendável escrever sobre o tema em primeira pessoa, pois minha percepção pode ser diferente da sua, leitor.

A verdade é que os atuais pedidos de intervenção militar tiveram resultados completamente diferentes que os de 1964, por uma questão de momento histórico.

A manifestação do sábado foi até ridicularizada, o que demonstra a segurança que a sociedade sente no sistema político democrático.

Como esquecer a famosa “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, que reuniu mais de 500 mil pessoas em São Paulo e completou meio século no ano passado?

Hoje sabemos que essa manifestação foi apoiada por setores da elite empresarial-militar que queriam a queda de João Goulart.

A Guerra Fria foi a grande percussora das Ditaduras na América Latina.

Depois de perder Cuba, os Estados Unidos simplesmente não poderiam deixar mais territórios de seu continente nas mãos da URSS, se quisessem vencer a guerra.

Por isso a articulação do Golpe foi feita com extrema frieza, perfeita logística e com o apoio dos americanos - detalhe que não aconteceu no século XXI, pois a Casa Branca recusou os pedidos de Impeachment feitos por brasileiros pela Internet.

Nos anos 60, mídia, empresariado, americanos e militares fariam de tudo para evitar uma ascensão comunista no Brasil.

Alguns grupos, como a Aliança Nacional Libertadora, de Carlos Marigghela, que completou 100 anos em 2011, realmente desejavam uma Revolução do proletariado no Brasil.

Entretanto, a articulação desse movimento sempre foi muito inferior à contrária, então a possibilidade de um Golpe Comunista era infinitamente menor que de um Militar.

Outro detalhe que não se repetiu no século XXI foi o apoio da mídia.

Os jornais fizeram coberturas da manifestação do sábado que geraram perseguições a jornalistas na Internet, em atos de represália que lembram perfeitamente os tempos de censura no Brasil.

No passado, por outro lado, vários jornais foram decisivos ao apoiar a queda de João Goulart – clique aqui para ler o editorial de O Globo que comemora o Golpe Militar.

Meio século depois, porém, a mesma Rede Globo aproveitou o contexto das manifestações do ano passado para declarar que o apoio ao Regime “foi um erro”.

Folha e Estadão nunca se pronunciaram explicitamente.

Não há dúvidas de que as empresas jornalísticas conservadoras foram favorecidas durante o Regime Militar.

Quem tinha “amigos” entre os militares, como o jornalista Roberto Marinho, facilmente conseguia uma concessão de televisão ou de rádio.

Por outro lado, os jornalistas progressistas eram exilados e seus meios de comunicação fechados.

Essa diferença de tratamento segundo ideologia condicionou completamente a oferta informativa que existe hoje.

Com a saída de jornalistas e meios de comunicação progressistas, o caminho e o mercado ficaram livres para os conservadores, que habilmente conseguiram estender seus conglomerados de mídia formando o oligopólio que atualmente domina a oferta informativa do país.

Independente desses detalhes, como os jornais brasileiros cobriram os pedidos de intervenção do sábado como algo inesperado e não corriqueiro, temos claro um sinal de avanço na Democracia do país.

Os problemas democráticos são resolvidos com mais Democracia, não menos, o que já é um motivo para comemorar.

É preciso, portanto, avançar mais. Superar esse período negro que tanto contribuiu para o aumento da desigualdade social e da corrupção no país.

Ano que vem a Democracia completa 30 anos.


É a situação perfeita para criar um consenso entre historiadores, apagar o nome de Ditadores de espaços públicos e buscar outras formas de eliminar, finalmente, esse fantasma que ainda corrói mentes e corações dos cidadãos brasileiros.