Foco na Mídia

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terça-feira, 18 de novembro de 2014

A intolerância da extrema-direita com o repórter do CQC

 
Manifestante com Guga Noblat na manifestação do sábado (15/11)

O repórter Guga Noblat, do CQC teve sérios problemas para gravar uma matéria na manifestação pelo Impeachment de Dilma no dia 15 - o vídeo abaixo mostra a matéria completa e este link leva ao vídeo gravado pelo manifestante que está ao lado do repórter na foto acima.



Os repórteres do CQC têm o costume de provocar seus entrevistados, mas, nesse caso, Guga sentiu na própria pele a falta de respeito e a intolerância com as opiniões do próximo.

Os manifestantes xingaram o repórter, o empurraram, derrubaram seu microfone, provocaram, disseram que ele faz parte da imprensa "comprada" e complicaram ao máximo o trabalho da equipe da Bandeirantes.

Tudo isso pode ser represália pela cobertura que a Grande Imprensa realizou na última manifestação pelo Impeachment de Dilma Rousseff, eleita há três semanas.

Naquela edição, jornalistas da Folha e do Estadão fizeram coberturas que destacaram os pedidos de intervenção militar. Foram chamados de chapa-branca e sofreram perseguições nas redes sociais.

O curioso é que o Guga Noblat, o repórter agredido, é filho de Ricardo Noblat, colunista do jornal O Globo que insiste em atacar a imprensa alternativa, acusando-a precisamente de ser chapa-branca – o termo deriva das chapas brancas dos carros oficiais e no jornalismo faz referência a uma imprensa que defende o Governo e/ou seus órgãos a qualquer custo.

Ou seja, o pai, colunista do maior conglomerado de mídia da América Latina, induz sua audiência a acreditar que parte da imprensa está comprada pelo PT, e o filho, que foi cobrir a manifestação do sábado, foi atacado pelos manifestantes por pertencer justamente a esse setor de imprensa que supostamente faz parte de um fantasioso regime totalitário do proletariado.

É uma contradição digna da extrema-direita.

Pelo visto, os manifestantes consideram que todos meios de comunicação são chapa-branca.

Pausa para risadas.

Quer dizer então que a imprensa brasileira foi cooptada pelo PT? Claro, diriam os manifestantes; o Brasil vive uma Ditadura comunista.

Calma. Outra pausa - agora para lamentar o nível de conhecimento político de alguns e para pensar em possíveis interpretações objetivas do acontecimento.

A acusação teria sentido se somente for levada em conta a enorme quantidade de dinheiro público dirigida aos grandes conglomerados de mídia – só a Globo, que emprega o pai do repórter do CQC, embolsa mais de 400 milhões de reais por ano em publicidade oficial do Governo Federal.

O Estado ainda é o principal anunciante do país e isso pode ser suspeito para os manifestantes indignados da Paulista.

Porém, se esse detalhe fosse suficiente para comprar linhas editoriais e jornalistas, até a Editora Abril seria petista, pois as revistas impressas da editora recebem rios de dinheiro público há muito tempo.

Mas não.

A Grande Mídia brasileira no geral tem liberdade para fazer a cobertura que deseja.

O problema é que a extrema-direita exige uma cobertura digna de Rodrigo Constantino e Felipe Moura, blogueiros da revista Veja.

E obviamente os veículos de comunicação “imparciais” da Grande Mídia não compactuam com as fantasias que esses jornalistas escrevem.

Preferem uma cobertura mais séria e sutil ideologicamente, que ganhe a confiança da audiência por ser supostamente neutra e desinteressada.

E quando a sociedade acredita nesse apartidarismo que só existe na formalidade, os conglomerados de imprensa estão prontos para usar enfoques tendenciosos e técnicas de manipulação que induzem as pessoas a acreditarem em determinados pontos de vista, sem sequer conhecer quais são as outras interpretações dos fatos cotidianos.

E é nessas horas que a Grande Imprensa contribui para a desinformação de cidadãos e, consequentemente, com a intolerância política que promove a intolerância.

Acontece que a Grande Imprensa está menos à direita que os manifestantes.

Os conglomerados de imprensa são perfeitamente representados pelo PSDB. E, como sabemos, os manifestantes consideram que até alguns políticos do principal partido de oposição são petistas, como acusaram o ex-deputado federal Xico Graziano, quando ele se opôs aos pedidos de intervenção militar na última edição da manifestação.

Os manifestantes de extrema-direita ainda estão nos anos 60. Lutam contra comunistas e alguns pedem uma “Revolução” para conter o avanço do PT, como se Dilma fosse tão revolucionária quanto Marighella.

Porém, vivemos em uma Democracia e até a extrema-direita tem direito de se pronunciar.

É necessário dar a essas pessoas justamente o que elas recusam a oferecer: respeito, tolerância e conhecimento.

Qualquer outra postura incentiva o ódio e as agressões anti-Democráticas que aconteceram esse fim de semana.

E isso é o último que nossa sociedade despolitizada necessita nesse momento.

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