Foco na Mídia

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quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Preconceito na mídia provém da ideologia de jornalistas

Diogo Mainardi no programa em que supostamente discriminou nordestinos


A denúncia que seis deputados federais apresentaram hoje (06/10) contra o jornalista Diogo Mainardi entra para a lista de episódios em que a liberdade de expressão supostamente ultrapassa seus limites.

Comentando o sucesso eleitoral de Dilma Rousseff no Nordeste do país, o jornalista fez declarações que, segundo a representação dos deputados, poderia “incitar posições discriminatórias e racistas na sociedade”.

Diogo disse que “o Nordeste sempre foi retrógado, sempre foi governista, sempre foi bovino, sempre foi subalterno em relação aos pobres durante a Ditadura Militar, depois com o reinado do PFL, e agora com o PT”. “É uma região atrasada, pouco educada, pouco instruída, que tem uma grande dificuldade de se modernizar, e se modernizar na linguagem”, completou.

A mídia brasileira recentemente foi palco de situações similares.

As declarações de Rachel Sheherazade no SBT Brasil e de Levy Fidélix no debate da Record para candidatos à Presidência demonstram que a liberdade de expressão deve ser usada com um mínimo de cuidado para não afetar o direito de terceiros, consequência que determina o único limite a esse Direito Fundamental.

Curiosamente, esses três episódios foram protagonizados por figuras que se encontram no espectro conservador da política – a famosa Direita.

Seria, portanto, um problema da ideologia conservadora em si? Não exatamente.

Antes de nada, é aconselhável lembrar que ideologia é o conjunto de ideias, pensamentos, doutrinas e/ou visões do mundo.

O conservadorismo é historicamente tradicional no Brasil. Como o próprio nome diz, essa ideologia se conserva.

Muitos de seus valores provêm da insegurança em si mesmo e da fobia social, sentimentos que, somados ao orgulho por cumprir certos padrões de comportamento e status exigidos pela sociedade, motivam as pessoas a discriminar aqueles que não se encaixam nesse perfil.

Assim sendo, a ideologia conservadora tende a ser intolerante com quem supostamente é inferior na fantasiosa hierarquia social.

Nordestinos, progressistas, gays, favelados, negros e adeptos de religiões minoritárias, portanto, naturalmente sofrem preconceito da tradicional sociedade brasileira.

O problema aumenta quando os formadores de opinião dessa ideologia – entre os quais estão Sheherazade, Mainardi e outros colunistas da Grande Mídia – abusam dos limites da liberdade de expressão e, em um ato que carece de planejamento e/ou auto-crítica, pronunciam palavras preconceituosas contra coletivos sociais em meios de comunicação.

Essas palavras incentivam a descriminação na sociedade brasileira, pois exercem influencia na ideologia dos cidadãos, ou seja, no modo que as pessoas veem o mundo, o que contribui para espalhar ideias preconceituosas.

Por isso a profissão de jornalista envolve uma responsabilidade enorme.

E por isso os cursos de jornalismo e comunicação social dão especial atenção à ética na profissão.

Sem o conhecimento e a aplicação do Código Deontológico no jornalismo, o profissional tende a cometer excessos que provém de sua própria ideologia.

Ou seja, discriminações na mídia acontecem quando a visão do jornalista é privilegiada frente à ética da profissão. Se fosse ao contrário, a ética motivaria o profissional a selecionar certas declarações em detrimento de outras.

Logicamente essas discriminações também acontecem na esquerda, mas possuem outro alvo, que normalmente são pessoas com recurso e poder suficiente para acionar judicialmente quem ultrapassa os limites da liberdade de expressão.

Por isso os jornalistas progressistas não são denunciados por figuras públicas, mas sim processados pela pessoa atingida.

Os alvos da direita, por outro lado, costumam ser coletivos que necessitam a tutela do Estado. Então os excessos são denunciados a instituições, como aconteceu com Mainardi.

Os casos podem parecer diferentes, mas a raiz é a mesma: a ideologia do jornalista.

Sem essa visão que olha o próximo com preconceito, ninguém cometeria excessos.

Ou melhor, com uma visão – ou ideologia - tolerante, respeitosa e compreensiva, o jornalista naturalmente evitaria a discriminação.

O mesmo serve para cidadãos.

A chave para acabar com discriminações é, portanto, superar a visão ideológica do mundo, pois ela incentiva as pessoas a atacarem grupos que se opõem ao seu modo de ver o mundo ou que atrapalham a implantação de políticas públicas ou sistemas de governo determinadas pela própria ideologia.

As punições a jornalistas por excessos dão boas lições, mas não cortam o mal pela raiz, pois a discriminação é intrínseca ao homem. Somente a modificação mental do ser humano pode realmente resolver um problema criado na consciência de uma pessoa.

Nesse sentido, é aconselhável ampliar os valores democráticos.

Tolerância, respeito, aceitação e compreensão da diversidade existentena sociedade são valores que melhoram a convivência comunitária, enquanto as visões limitadas provenientes de ideologias contrárias são mecanismos de divergência e contraste que motivam a discriminação entre semelhantes.

Todo ser humano se encaixa em uma ou outra ideologia.

Deve lutar para controlar a mesma para evitar ser controlado por ela.


O mesmo serve para os jornalistas, que, além de tudo, têm a responsabilidade de formar a opinião da sociedade. 

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