Os modelos de Dilma e Aécio,
que disputam a presidência dia 26, têm formas muito diferentes de gerir a
educação, saúde, economia, etc.
A relação com a mídia é
outro dos muitos contrastes existentes entre os candidatos.
Essa diferença será mais
nítida no futuro, quando um deles assumir o Palácio do Planalto, mas, pelo que vêm
falando nos últimos meses e durante a campanha, já é possível determinar como
cada um tratará a imprensa em um eventual mandato.
Primeiramente,
um novo governo de Dilma manteria as políticas atuais de distribuição de publicidade
governamental. O Governo é sempre um dos maiores anunciantes do país e essa veiculação
de publicidade de programas e avisos supõe mais recursos para os meios de
comunicação do Brasil, assim como qualquer anúncio de empresas privadas.
A gestora
dessa publicidade oficial é a Secom, Secretaria de Comunicação Social, que atualmente
atua segundo a política de levar os anúncios ao maior número de pessoas
possível.
Assim
sendo, a publicidade oficial do Estado é majoritariamente dirigida aos grandes
conglomerados de mídia do país – ou seja, a Grande Imprensa -, que possui maior
audiência entre os meios de comunicação brasileiros.
Porém,
desde o primeiro Governo Lula, os gastos com publicidade governamental aumentaram, - os dados estão disponíveis aqui - junto com o número de beneficiados, para favorecer meios de comunicação de pequeno
e médio porte, que não recebiam grandes incentivos antes de 2003.
Com
essa nova política distributiva, veículos de comunicação regionais, digitais e alternativos
passaram a receber mais recursos do governo, enquanto os recursos dirigidos à
Grande Mídia foram levemente reduzidos.
A
intenção é tímida, mas incentiva a diversidade dos meios de comunicação do
Brasil, ampliando a pluralidade ideológica e de representação dos jornais,
rádios, revistas, etc.
Essa
postura provavelmente não seria seguida por Aécio.
A
Grande Imprensa conservadora, que apoia os tucanos desde sempre, se sentiu
desfavorecida com a maior divisão de gastos públicos com publicidade oficial.
Os conglomerados
de imprensa perderam uma parte dos recursos que recebiam e viram seu oponente ideológico – a imprensa progressista, que faz parte da mídia alternativa e inclusive
revela escândalos da Grande Imprensa – ser ajudada pelo Governo do PT.
Como
Aécio e Grande Imprensa têm relações estreitas, um eventual governo do tucano iria
ceder à influência dos grandes jornais limitando a oferta de publicidade
oficial às grandes empresas de comunicação do país.
Isso
significa ainda mais recursos para Globo, Folha, Estadão e Abril, e menos ainda para blogs e órgãos de imprensa progressistas como Carta
Capital, Brasil 247, Revista Fórum e Jornal GGN. Além, claro, da redução de
publicidade dirigida a jornais e revistas regionais, que cobrem os fatos cotidianos
de pequenas áreas do país.
É
interessante lembrar que, da mesma forma que a Grande Imprensa pressiona os
tucanos para receber mais publicidade oficial, a imprensa alternativa pressiona o PT para limitar os recursos dirigidos aos conglomerados de imprensa.
O
argumento que sustenta essa postura é o de que a Grande Mídia, que construiu seu
“império” durante o regime ditatorial, já possui lucros que provém de suas
propriedades cruzadas - das diversas rádios, televisões, jornais, revistas,
canais de TV a cabo, editoras, institutos de pesquisa, etc.
Por
outro lado, os meios de comunicação alternativos e regionais são exclusivamente
bancados pela publicidade que recebem. É um desequilíbrio que surgiu na
Ditadura e se mantém até hoje, quase 30 anos depois da abertura democrática.
Com
isso, o corte de publicidade oficial dirigida aos pequenos meios de comunicação
do país cria problemas para os mesmos. Muitos fechariam por falta de recursos e
outros, mais fortes, continuariam de forma absolutamente independente ao
Governo.
A
oferta de diversidade ideológica seria reduzida junto com a quantidade de meios
de comunicação. E, como a Democracia é baseada na pluralidade, diversidade e
direito de representação de todos coletivos da sociedade, a diminuição da
oferta de meios de comunicação teria um efeito negativo para a democrática formação
da opinião pública.
Portanto,
o oligopólio no setor da imprensa, que possui uma única ideologia e visão do
mundo, seria fortalecido em um eventual governo de Aécio.
Buscando
evitar um panorama em que grandes conglomerados de mídia dominem a comunicação
do país, a Constituição Federal proíbe a formação de monopólio ou oligopólio na
imprensa em seu artigo 220, § 5º
– “Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser
objetivo de monopólio ou oligopólio”.
O
artigo, porém, nunca foi regulamentado. A falta de leis específicas que cumpram
a determinação do parágrafo 5 do artigo 220 cria um vazio legal que permite a existência
de oligopólio na imprensa.
Com
isso, os conglomerados da Grande Mídia brasileira concentram audiência e
influência, deixando as “migalhas” para outras ideologias e vozes da sociedade.
A
solução para a situação seria uma regularização econômica da imprensa, medida
que foi aprovada por Dilma em entrevista a blogueiros progressistas, mas que
desde o governo de Lula vem despertando a “ira” dos poderosos chefões da Grande
Imprensa.
A
regularização exigiria por lei que os conglomerados vendessem algumas empresas
para chegar a um determinado tamanho, adaptado aos padrões democráticos. Porém,
essa medida supõe perda de propriedade e de lucros para as empresas, motivo
pelo qual eles - e Aécio, que conta com seu apoio - se opõem a qualquer ação
que limite a propriedade cruzada.
Como
o oligopólio favorece o discurso único de uma ideologia e exclui outras vozes
da produção informativa do país, sua consolidação supõe perdas de
características democráticas para a sociedade brasileira.
Os
países europeus sabem disso e são exemplo de pluralidade informativa na mídia.
Países
como a Espanha, por exemplo, têm grandes meios de comunicação com ideologias muito
diferentes. O progressista El País possui audiência pouco maior ao conservador ABC.
Com isso, as influências ideológicas dos meios de comunicação se equilibram
dentro da sociedade espanhola, pois os órgãos de imprensa progressistas têm o
mesmo alcance que os conservadores.
Essa
diversidade nos principais meios de comunicação de um país é a base de qualquer
Democracia, pois a sociedade forma sua opinião através de diferentes pontos de
vistas e enfoques.
Por
outro lado, o modelo de mídia concentrada cria uma opinião pública baseada em
um discurso único, que favorece, obviamente, uma única ideologia.
Nesse
sentido, Dilma pretende dar um passo que fortalece a Democracia do Brasil, ao
invés de reduzi-la. Enquanto Aécio, como bom conservador, prefere manter o
padrão atual que favorece o ditatorial discurso único na mídia.
Como dito antes, os
princípios democráticos estão baseados na diversidade cultural, na pluralidade
de ideias e opiniões, na representatividade de todos coletivos sociais e na mescla
de ideologias e de enfoques na imprensa.
Quem
lute por esses valores fortalecerá a Democracia. Quem lute contra, favorecerá a "Ditadura" baseada na imposição de uma ideologia à sociedade.
Assim
sendo, dia 26 o país escolherá se prefere uma mídia plural ou uma oligopolista,
pois a vitória de Dilma ou Aécio determinará a consolidação de um dos projetos
midiáticos que pretende transformar o país através de uma ou outra ideologia
que disputa o poder.
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