Foco na Mídia

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sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Carta aberta a Veja de um jornalista recém-formado

Foto da página "Muda Mais", da campanha de Dilma Rousseff

Caros amigos da revista Veja,

Um dos conhecimentos mais importantes da faculdade de jornalismo é a ética na profissão. No século XXI, Era da Informação, esse aspecto é o que realmente diferencia um cidadão normal de um jornalista.

Hoje, qualquer pessoa pode produzir notícias, reportagens ou editoriais, é só procurar na Internet as características de cada um desses gêneros jornalísticos e levá-los à prática usando como base um fato, tema ou assunto.

O que nos diferencia é a transmissão imparcial e correta das informações, o entendimento das consequências de uma comunicação e a compreensão do papel do jornalista na sociedade.

Tudo que publicamos exerce influência na vida dos cidadãos e na forma que eles veem a realidade. A responsabilidade é tão grande, que o jornalismo é uma ferramenta de poder, o quarto, precisamente, na Democracia.

Assim sendo, esse poder pode ser usado para o esclarecimento do leitor através da formação desinteressada da opinião pública ou pode ser direcionado para a conquista de objetivos particulares.

O jornalismo da revista Veja, como se pode imaginar, atualmente se caracteriza pela busca do segundo objetivo.

Quando um órgão de imprensa mistura informação com opinião, descontextualiza fatos para destacar certas informações em detrimento de outras e publica declarações ou acusações superficiais que são perfeitas para manipular, mas péssimas para esclarecer o leitor; ele dá mais importância aos seus próprios interesses que aos da sociedade no geral.

É uma atitude egoísta e vocês estão nesse caminho.

Essa postura mina a função básica do jornalismo, que é formar a opinião pública para fortalecer a Democracia; e passa a seguir os objetivos do discurso panfletário, que é a busca fanática e incondicional de resultados eleitorais.

Ou seja, a conduta da Veja acaba com o sentido da profissão de jornalista. Quando o jornalismo é usado em campanha eleitoral, desempenha a função de outra área, a do marketing político, deixando o objetivo do quarto poder de lado e consequentemente abdicando nossa função social.

Fico triste, amigos, quando vejo jornalistas “consagrados” de grandes meios de comunicação – que deveriam ser exemplo – assassinando a ética da profissão em nome de uma corporação que não defende nem nossa categoria, pois inclusive os interesses dos jornalistas são contrários às ambições dos poderosos conglomerados de mídia.

Dessa forma trabalhamos sem cobrar horas extras e sem sequer precisar de um diploma para o exercício da profissão. Tudo em nome dos barões da mídia e nada em defesa dos interesses dos jornalistas ou da sociedade, que tem direito de receber informação plural, contrastada, apurada e verdadeira.

Ora, o jornalismo é um trabalho social. Vendemos um "produto", que são basicamente informações e opiniões, mas se escolhemos os interesses particulares em detrimento dos gerais, criamos uma crise de credibilidade no exercício do quarto poder.

Compreender a responsabilidade da profissão e pretender segui-la é, portanto, é chave para o bom exercício do jornalismo.

Sou apenas um jornalista recém-formado e estou longe de ser alguém que dá advertências ou broncas em profissionais que trabalham há mais de vinte anos.

Porém, é frustrante ver como as principais referências do jornalismo abandonam a função essencial da profissão, que é o esclarecimento dos cidadãos, para seguir objetivos egoístas que na prática atuam de forma inversa, limitando a opinião da sociedade à nossa própria forma de ver o mundo.

O que estamos fazendo com nossa profissão, companheiros?

Jornalismo é feito para abrir mentes, não para fechá-las.

É humilhante e extremamente vergonhoso ver a capa da maior revista semanal do Brasil ser distribuída em panfletadas eleitorais.

Esse simples acontecimento acaba com o sonho de muitos aspirantes a jornalistas.

Quase acabou com o meu, pois durante muito tempo fiquei frustrado e decepcionado por ver os rumos de nossa profissão.

Superei essa frustração com doses de esperança e com o fortalecimento de meus valores éticos. Aconselho o mesmo à vocês, companheiros.

Nós, jornalistas, somos seres orgulhosos por natureza, mas não podemos nos sentir superiores a ponto de querer manipular o direito de decisão da sociedade.

Nossa função é esclarecer os cidadãos para que essa decisão seja correta, não influenciar na mesma através de meias-verdades e de enfoques tendenciosos.

Qualquer postura que pretenda um resultado além do esclarecimento do leitor e da formação de opinião de maneira desinteressada não faz parte do jornalismo e é digno de vergonha para os profissionais da área.

Essa decisão atrapalha o bom funcionamento da Democracia e, consequentemente, do país inteiro. Pois a cobertura diária e tendenciosa cria exércitos de cidadãos ignorantes ao invés de ampliar o conhecimento político da população.

Como disse antes, companheiros, nossa profissão envolve uma enorme responsabilidade dentro da sociedade e da própria Democracia.

Se um jovem inexperiente e recém-formado – como eu - sabe disso, vocês, jornalistas com décadas de bagagem e de conhecimento da profissão devem saber.

Ou melhor, deveriam aplicar esse conhecimento, pois de nada serve conhecer a ética se na prática atuamos de forma mesquinha e egoísta.

Enfim, sempre temos tempo de mudar, amigos. É só querer.

Um abraço,

Rafael Bruza 

3 comentários:

  1. O pior cego é aquele que não quer ver... é muito fácil dizer que a Veja é um panfleto... mas vcs esquecem q a mesma Veja denunciou o governo FHC na compra de votos para reeleição e nos supostos casos de corrupção nas privatizações... a Veja também denunciou o mensalão... Sinceramente, até agora tudo que a Veja publicou foi depois comprovado... mas qdo é contra o PT a veja não tem credibilidade... haja paciência!

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  2. Rafael Bruza, eu sou formada há 6 anos, então um pouco mais do que você. O grande problema é que há pressão dentro das empresas jornalísticas para que uma determinada linha editorial seja seguida. Eu mesma já tive matéria editada para que políticos ligados a um determinado grande jornal não fossem implicados. Assim como recentemente a editora de política do jornal O Globo foi afastada pela direção da empresa por discordar que fatos negativos a respeito do candidato da oposição não estivessem recebendo destaque nas edições do jornal. Os profissionais são o lado fraco da questão, são os donos das grandes empresas de comunicação os responsáveis. Não sei se vc sabe, mas muitas empresas possuem políticos como sócios ou até mesmo dirigentes de algumas afiliadas regionais. Ao anônimo aí em cima, informo que muita coisa que Veja publica é comprovadamente mentira, tanto que a revista já foi diversas vezes processada por publicar notícias falsas, tendo perdido estes processos.

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  3. PELO FIM DA CORRUPÇÃO E DAS MASSAS DE MANOBRA, FORA PT E PSDB!

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