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Dilma Rousseff e Aécio Neves no debate da Rede Bandeirantes |
O debate de ontem (14/10)
realizado na Rede Bandeirantes foi marcado por um enfrentamento duro de dois
candidatos que não se olharam nos olhos, mas atacaram e foram atacados
mutuamente. A postura dos dois era digna de horário eleitoral, onde o
discurso de um candidato carece de contextualização e só destaca as informações que fazem bem ao partido.
Sobrou “espetacularização da
política”; faltou conteúdo, conhecimento e, no fundo, respeito com os
cidadãos.
Aécio chamou Dilma de
leviana depois que ela citou o Aeroporto construído em terras de seu tio, por
exemplo. No entanto, quem realmente foi “leviano” foi o próprio debate de ontem!
Pouco refletivo, imprudente e leve – definições de “leviano” no Dicionário Aurélio.
As meias-verdades partidaristas dominaram o tempo dos candidatos e ajudaram a
propagar muitas das mentiras que literalmente dominam as redes e as mentes
dos eleitores nesse segundo turno.
As propostas e ideias ficaram
em segundo plano; enquanto as notícias que saíram eram maioritariamente sobre
os ataques realizados. Essa superficialidade gera muita audiência para a
Bandeirantes – que foi líder durante da 1h30m que durou o debate -, mas não
ajuda objetivamente o eleitor a escolher seu candidato.
Acontece que essa característica
leviana é típica do formato da televisão brasileira, que sempre privilegiou o entretenimento
e os lucros, deixando de lado a informação imparcial de interesse público e a
educação – que são mais importantes em países europeus, por exemplo. Essa
prioridade focada no financeiro cria coberturas políticas superficiais com destaques para corrupção
e acusações bombásticas, além de telejornais baseados no entretenimento e na
espetacularização da notícia através de imagens impactantes e conteúdos superficiais.
Desse foco nos lucros e nos votos surge
a ”necessidade” de encontrar um vencedor dos debates televisivos – entre aspas,
porque essa necessidade, no fundo, não existe. Os políticos viram atores que interpretam
um papel; uma imagem moldada pelas estratégias do marketing político. Quem
fizer melhor interpretação – ou seja, quem atacar melhor, transmitir
segurança, confiança, caridade, força e firmeza – supostamente ganhará o
debate.
Logicamente as preferências
partidárias e ideológicas das pessoas condicionam os julgamentos. E essa característica
subjetiva acaba com o sentido de escolher um vencedor, pois a maioria
das vezes não existe um consenso que permita o julgamento objetivo.
Enfim, a postura dos candidatos espetacularizou
o debate. Sendo o PT e o PSDB dois partidos eleitoralmente massificados, os
cuidados para evitar deslizes são enormes. Com isso, falta espaço para propostas
e sugestões, pois a introdução de uma proposta à essa altura abre campo para mais ataques do rival.
É um círculo vicioso em que os candidatos atacam para não dizer propostas - e não dizem propostas para atacar.
Quem agradece
um debate recheado de polêmica é a Bandeirantes e os jornais: tem material
suficiente para chamar atenção do público.
O palco passa a ser visto
como um ringue de batalha de onde surgem polêmicas a cada instante, temas que aparecem
instantaneamente na imprensa e na Internet, onde as discussões políticas correm soltas. Essa possibilidade de debate nas redes sociais é um espaço para discutir ideologias e visões do mundo, mas é mal utilizada quando os próprios cidadãos incorporam os discursos ofensivo dos candidatos a seu próprio discurso e acabam limitados ao que diz o marketing político.
Por outro lado, através da exploração
extrema de detalhes frívolos e espetaculares como os ataques e as
meias-verdades de cada candidato, a mídia consegue ascender as polêmicas com frequência, dando mais repercussão aos seus conteúdos e conseguindo audiência, publicidade e,
consequentemente, lucros.
Por isso os destaques dos
debates normalmente são declarações polêmicas, ao invés de planos de Governo ou contextualizações. Trata-se
de uma estratégia dos políticos, da televisão e da própria mídia no geral. É tudo por dinheiro e votos.
Ontem, Aécio usou todas suas
perguntas para atacar Dilma; enquanto a petista usou a maioria das suas para
comparar seu governo com o de FHC, que inspira o projeto de Aécio. É questão de
estratégia para conseguir o voto de um público com conhecimento político limitado
pela própria cobertura frívola da televisão e de outros canais de mídia.
Sem dúvida o telespectador
pôde tirar suas próprias conclusões e os eleitores de um ou de outro candidato
tem mais argumentos para atacar o rival. Mas essa postura dos debates
televisivos contribui para o limitado conhecimento político dos cidadãos e não motiva
um maior entendimento de temas complexos que são necessários para a inclusão
política da sociedade.
Atacando e dizendo que “eu
sou melhor e você mente”, os candidatos conseguem convencer seus apoiadores –
que podem virar cegos e fiéis, ou seja, tudo que qualquer político deseja -, mas também incentivam o desinteresse da sociedade pela política, pois a mesma continua
acreditando que esse tema só é formado por corrupção, debates, eleições e
ataques entre partidos.
Ora, a política é muito mais
complexa que qualquer debate televisivo. Assim como os fatos são muito mais
heterogêneos do que as notícias televisivas mostram.
Claro que a “telinha”
permite a transmissão de reportagens profundas e de documentários muito bem
contextualizados que de fato aumentam o conhecimento do telespectador.
Mas, como dito antes, a
televisão é movida pelos lucros; e para lucrar é preciso audiência; então o
formato televisivo naturalmente aponta para uma direção em que intenção de
informar o cidadão fica na geladeira, enquanto a prioridade de qualquer
rede de televisão do Brasil vira a busca de audiência, de publicidade e de uma
audiência que compre os produtos da publicidade.
Para a TV, portanto, quanto mais espetaculares
sejam os debates, melhor.
O debate de quinta-feira no SBT não será diferente.
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