Vendo o panorama geral do
Estado de São Paulo, não é difícil encontrar os motivos que elegeram Geraldo Alckimin
no primeiro turno.
A falta do recurso básico da
vida, a água, foi a polêmica final de um Governo que hoje não perde o apoio da
população por nada.
O contexto político explica
a vitória fácil dos tucanos.
A característica conservadora
do eleitorado, a alta rejeição a outros partidos, a tendência de responsabilizar
as prefeituras antes do Governo do Estado e a boa e velha blindagem que os
tucanos recebem da Grande Mídia são os principais fatores que explicam a
preferência do eleitorado paulista.
O Estado de São Paulo sempre
teve tendências conservadoras. A capital já elegeu candidatos mais à esquerda–
como Marta Suplicy, Luiza Erundina ou o próprio Fernando Haddad. Mas no interior
do Estado mentalidade dominante é absolutamente conservadora.
Essa ideologia aumentou com
as altas taxas de imigração do nordeste nas últimas décadas.
Com a vinda massiva de mão de
obra de outros Estados, o paulista passou a vincular os problemas das cidades
com a presença dessas pessoas.
Segundo artigo de William Nozaki
publicado na Carta Maior, “a falta de planejamento político, a ausência de investimento
e a carência de equipamentos” não são vistos como causas dos problemas sociais
do Estado, pois as pessoas tendem a responsabilizar a imigração constante de
pessoas.
Essa mentalidade explica por
que os paulistas costumam culpar o resto do Brasil pelos problemas de sua
cidade.
A frequente imigração aumenta
a fobia contra o outro e incentiva a falta de segurança sobre si, sentimentos
que são minimizados pelos chamados valores conservadores – como intolerância,
fanatismo político, orgulho próprio e egocentrismo.
Considerando que hoje o Nordeste
do Brasil tem uma preferência massiva por Dilma Rousseff, o pensamento de que
os problemas de São Paulo vêm dessa região do país cresce junto com o
preconceito conservador que existe, principalmente, no interior do Estado.
Com isso, o índice de
rejeição à políticas de esquerda também aumentou.
O PT é considerado inimigo
do Brasil no Estado mais rico da Federação.
Essa radicalização
conservadora cresceu durante os anos dos Governos Lula e Dilma e favorece o
fanatismo partidário, que faz com que eleitores reclamem dos problemas de
outros partidos enquanto ignoram os do que apoiam.
Ou seja, a maioria dos
eleitores de Alckimin conhece bem os problemas do PT, partido que abominam, mas,
por apoiar cegamente os tucanos, não costumam lembrar os erros do PSDB.
Alckimin ficou intacto mesmo
com a enorme quantidade de erros de gestão e escândalos de corrupção do Estado.
Essas características do
eleitorado têm forte influência nos resultados de ontem (05/10), mas não são os
únicos motivos da vitória de Alckimin.
As pessoas costumam dar mais
atenção à medidas das Prefeituras, deixando de lado as ações do Palácio dos
Bandeirantes.
A proximidade das primeiras
faz com que suas decisões apareçam mais para os cidadãos que as ações do
Governo do Estado.
Com isso, os prefeitos têm relação
mais próxima e recebem elogios ou culpas de medidas que em ocasiões nem correspondem
a eles.
Essa tendência da sociedade
também ajuda o Governador.
Mas a blindagem da Mídia é um
fator mais importante na equação que resultou na eleição de Alckimin no
primeiro turno.
A Grande Imprensa conta com audiência
massiva da sociedade e credibilidade inquestionável de muitos cidadãos.
Quando a mesma não relaciona
o nome de Geraldo Alckimin a problemas que surgiram em sua gestão, o governador
simplesmente continua isento de culpa.
A mídia vinculou – sem
maiores destaques- o nome de José Serra no escândalo dos trens de São Paulo.
Porém, deixou Alckmin fora de um escândalo que envolveu a cúpula do Governo do
Estado.
A eleição de José Serra
mostra que o eleitorado paulista não se preocupa muito com a corrupção do PSDB.
Mas a postura passiva da mídia nos escândalos tucanos sem dúvida exerce
influência nesse eleitorado.
A falta de água no Estado
também não afetou o Governador.
A grande maioria das notícias
sobre o Sistema Cantateira trata os récords da baixa do volume de água, mas poucas
reportagens investigativas abordam as origens reais do problema.
A seca obviamente tem influência.
Afinal de contas, 2014 realmente foi um ano com índice de chuvas bem menor que
a média histórica.
E em anos que o clima ajudou,
não faltou água.
Porém, a falta de
investimento é real e fez com que o sistema operasse sem segurança suficiente
para suportar medidas adversas, “detalhe” que, segundo critérios jornalísticos,
não foi suficientemente explorado pela mídia.
A privatização de metade da
Sabesp durante o Governo tucano e a distribuição de 60% do lucro (!) entre acionistas
agrava o problema e concentra o foco de críticas da oposição.
Esses detalhes saíram constantemente
em veículos de comunicação da Imprensa Alternativa – como este ou este -, no
entanto, não foram explorados em profundidade pela Grande Mídia.
Esses meios de comunicação
abordaram o problema pontualmente, mas ficaram longe de destaca-lo de forma
proporcional à sua gravidade e de realizar uma cobertura profunda que
analisasse os responsáveis e sugerisse medidas futuras.
Considerando a rejeição ao
PT no Estado, publicações desse contexto favoreceriam a candidatura de Paulo
Skaf e poderiam até levar a disputa ao segundo turno.
Mas a mídia resolveu “ajudar”
o partido que compra milhares de assinaturas para escolas estaduais e acabou
deixando a opinião pública sem detalhes fundamentais do seríssimo problema
hídrico que o Estado enfrenta.
Se, por outro lado, o
Sistema Cantareira fosse responsabilidade da prefeitura de Fernando Haddad, o
PT sem dúvida teria que dar muitas explicações. Ainda mais considerando o
conservadorismo do eleitorado.
A crise de água
possivelmente teria uma seção especial nos grandes jornais – assim como o Mensalão ganhou durante o julgamento - e a cobertura informativa dos fatos
seria completamente diferente.
Jornalistas estudariam as
prioridades do Governo do Estado e diriam à população que faltou planejamento e
investimento, mesmo com a forte seca que afeta a cidade. O PT simplesmente não conseguiria se reeleger se fosse o
responsável pela Sabesp.
Mas com os tucanos a
cobertura é diferente.
O oligopólio da mídia evitou
esses problemas para Alckmin.
Portanto, a vitória do
Governador em primeiro turno não é obra do acaso.
Existe todo um contexto social
que explica a manutenção de Geraldo Alckimin no Palácio dos Bandeirantes.
O paulista no geral exige
turno no poder. Mas só em Governos que não o agradam.
Não veem problema em ter um
partido governando durante 20 anos se o mesmo tem viés conservador.
Afinal, os paulistas
consideram que os problemas de sua terra são sempre causados pela esquerda ou
pelos outros Estados. Para eles, o PSDB nunca fez nada de errado.
Foi essa convicção do
eleitorado que deu a vitória a Alckimin no primeiro turno.
E é essa mesma convicção cega que pode devolver o poder aos tucanos caso o PT não consiga convencer a parte “marinista” do eleitorado até o dia 26 de outubro.
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