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Foto da página "Muda Mais", da campanha de Dilma Rousseff |
Caros amigos da revista Veja,
Um dos conhecimentos mais
importantes da faculdade de jornalismo é a ética na profissão. No século XXI,
Era da Informação, esse aspecto é o que realmente diferencia um cidadão normal
de um jornalista.
Hoje, qualquer pessoa pode
produzir notícias, reportagens ou editoriais, é só procurar na Internet as
características de cada um desses gêneros jornalísticos e levá-los à prática usando
como base um fato, tema ou assunto.
O que nos diferencia é a
transmissão imparcial e correta das informações, o entendimento das
consequências de uma comunicação e a compreensão do papel do jornalista na
sociedade.
Tudo que publicamos exerce influência na vida dos cidadãos e na forma que eles veem a realidade. A
responsabilidade é tão grande, que o jornalismo é uma ferramenta de poder, o
quarto, precisamente, na Democracia.
Assim sendo, esse poder pode
ser usado para o esclarecimento do leitor através da formação desinteressada da
opinião pública ou pode ser direcionado para a conquista de objetivos particulares.
O jornalismo da revista
Veja, como se pode imaginar, atualmente se caracteriza pela busca do segundo
objetivo.
Quando um órgão de imprensa
mistura informação com opinião, descontextualiza fatos para destacar certas
informações em detrimento de outras e publica declarações ou acusações
superficiais que são perfeitas para manipular, mas péssimas para esclarecer o
leitor; ele dá mais importância aos seus próprios interesses que aos da
sociedade no geral.
É uma atitude egoísta e vocês estão nesse caminho.
Essa postura mina a função
básica do jornalismo, que é formar a opinião pública para fortalecer a
Democracia; e passa a seguir os objetivos do discurso panfletário, que é a busca
fanática e incondicional de resultados eleitorais.
Ou seja, a conduta da Veja
acaba com o sentido da profissão de jornalista. Quando o jornalismo é usado em campanha eleitoral, desempenha a função de outra área, a do marketing político,
deixando o objetivo do quarto poder de lado e consequentemente abdicando nossa função social.
Fico triste, amigos, quando
vejo jornalistas “consagrados” de grandes meios de comunicação – que deveriam
ser exemplo – assassinando a ética da profissão em nome de uma corporação que
não defende nem nossa categoria, pois inclusive os interesses dos jornalistas
são contrários às ambições dos poderosos conglomerados de mídia.
Dessa forma trabalhamos sem
cobrar horas extras e sem sequer precisar de um diploma para o exercício da
profissão. Tudo em nome dos barões da mídia e nada em defesa dos interesses dos
jornalistas ou da sociedade, que tem direito de receber informação plural,
contrastada, apurada e verdadeira.
Ora, o jornalismo é um
trabalho social. Vendemos um "produto", que são basicamente informações e opiniões, mas se
escolhemos os interesses particulares em detrimento dos gerais, criamos uma crise
de credibilidade no exercício do quarto poder.
Compreender a
responsabilidade da profissão e pretender segui-la é, portanto, é chave para o
bom exercício do jornalismo.
Sou apenas um jornalista recém-formado e estou longe de ser alguém que dá advertências ou broncas em
profissionais que trabalham há mais de vinte anos.
Porém, é frustrante ver como
as principais referências do jornalismo abandonam a função essencial da
profissão, que é o esclarecimento dos cidadãos, para seguir objetivos egoístas
que na prática atuam de forma inversa, limitando a opinião da sociedade à nossa
própria forma de ver o mundo.
O que estamos fazendo com
nossa profissão, companheiros?
Jornalismo é feito para
abrir mentes, não para fechá-las.
É humilhante e extremamente vergonhoso ver
a capa da maior revista semanal do Brasil ser distribuída em panfletadas
eleitorais.
Esse simples acontecimento
acaba com o sonho de muitos aspirantes a jornalistas.
Quase acabou com o meu, pois
durante muito tempo fiquei frustrado e decepcionado por ver os rumos de nossa
profissão.
Superei essa frustração com
doses de esperança e com o fortalecimento de meus valores éticos. Aconselho o mesmo à vocês, companheiros.
Nós, jornalistas, somos
seres orgulhosos por natureza, mas não podemos nos sentir superiores a ponto de
querer manipular o direito de decisão da sociedade.
Nossa função é esclarecer os
cidadãos para que essa decisão seja correta, não influenciar na mesma através
de meias-verdades e de enfoques tendenciosos.
Qualquer postura que pretenda um resultado além do esclarecimento do leitor e da formação de opinião de maneira desinteressada não faz parte do jornalismo e é digno de vergonha para os profissionais da área.
Essa decisão atrapalha o bom funcionamento da Democracia e, consequentemente, do país inteiro. Pois a cobertura diária e tendenciosa cria exércitos de cidadãos ignorantes ao invés de ampliar o conhecimento político da população.
Essa decisão atrapalha o bom funcionamento da Democracia e, consequentemente, do país inteiro. Pois a cobertura diária e tendenciosa cria exércitos de cidadãos ignorantes ao invés de ampliar o conhecimento político da população.
Como disse antes,
companheiros, nossa profissão envolve uma enorme responsabilidade dentro da
sociedade e da própria Democracia.
Se um jovem inexperiente e
recém-formado – como eu - sabe disso, vocês, jornalistas com décadas de bagagem
e de conhecimento da profissão devem saber.
Ou melhor, deveriam aplicar
esse conhecimento, pois de nada serve conhecer a ética se na prática atuamos de forma mesquinha e egoísta.
Enfim, sempre temos tempo de mudar,
amigos. É só querer.
Um abraço,
Rafael Bruza