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Foto da manifestação. Segundo a PM cerca de 2,5 mil pessoas estiveram presentes. |
Os repórteres Gustavo Uribe,
da Folha de S. Paulo, e Ricardo Chapola, do Estadão, cobriram a manifestação do
último sábado (01/10) contra a reeleição de Dilma Rousseff e hoje sofrem
ameaças nas redes sociais pelos enfoques de suas matérias – clique aqui para
ver a matéria da Folha, e aqui para ver a do Estadão.
A Abraji – Associação brasileira
de jornalismo Investigativo - e o Sindicato de Jornalistas Profissionais do
Estado de São Paulo – SJSP - emitiram notas de repúdio às ameaças, segundo o
diário Folha de S. Paulo.
Os repórteres tiveram seus
perfis de redes sociais expostos em blogs e desde então são perseguidos nas
redes sociais.
As duas publicações destacam
os pedidos de intervenção militar de alguns manifestantes, o que, segundo
participantes declararam em redes sociais, foi feito por uma minoria que não
merecia atenção.
Ao destacar os pedidos de
intervenção militar e da volta da Ditadura, os repórteres criminalizaram o
protesto, na visão dos manifestantes presentes.
Segundo diversos comentários
nas redes sociais, a Folha de S. Paulo e o Estadão são petistas ou comunistas e
pretendem deslegitimar os pedidos feitos na manifestação do sábado.
Esse pensamento também
apareceu em um post do blogueiro da revista Veja, Rodrigo Constantino, que falou
sobre o comportamento da imprensa, acusando-a de possuir um “viés esquerdista”.
Análise:
A direita, que sempre
condenou manifestações de esquerda, sentiu na pele o que os progressistas sofrem
desde que começaram a fazer protestos.
A mídia só destaca manifestações
progressistas que são massivas ou que acabam em confronto. Atos de esquerda que
atraem 2 ou 3 mil pessoas - número presente
no ato de sábado - não costumam ganhar muita atenção da Grande Imprensa.
Acontece que o jornalismo
tende a buscar o foco “sensacional” dos fatos com o objetivo de ampliar o
interesse do leitor e, dessa forma, atrair mais audiência.
Portanto, a mídia destaca o
inesperado, o surpreendente e o que chama a atenção do leitor.
Assim sendo, a atenção
costuma estar direcionada a fatos negativos.
Nos atos de esquerda costumam
ser os famosos “vândalos” que a direita sempre desqualifica; enquanto o
destaque dos protestos reacionários são os pedidos de intervenção militar.
Em ambos os casos, o
critério da mídia é o mesmo e o objetivo também.
Essa postura atrapalha a função de publicar as exigências manifestadas nos atos e ainda contribui com a
criminalização dos movimentos sociais.
Ou seja, a busca por
audiência limita a qualidade do relato, que adquire aspectos subjetivos, e passa
a ideia de que as manifestações de esquerda são feitas por vândalos e pessoas
desocupadas, enquanto as de direita contam com a presença exclusiva de “viúvas
da Ditadura”.
Ora, a realidade é muito
mais complexa que definições limitadas.
Privilegiando fatos sensacionais,
a imprensa deixa de lado o foco principal da manifestação e destaca um ponto de
vista que não necessariamente corresponde com as exigências gerais dos
manifestantes.
É algo que acontece
principalmente na televisão, mas que também ocorre na imprensa escrita, como
nesse caso.
O foco principal da
manifestação do sábado é o pedido de Impeachment e de recontagem dos votos.
Os pedidos de intervenção
militar são reais, mas minoritários, como bem sabem os manifestantes reacionários. Mas por,
serem fatos sensacionais, apareceram nos textos dos dois repórteres presentes no ato.
Por coincidência ou não,
ambos entrevistaram a mesma pessoa: Sérgio Salgi, investigador da Política que
carregava um cartaz escrito “SOS Forças Armadas”.
O cartaz diz explicitamente
que esse manifestante deseja a volta da Ditadura. Como foi tratado nas duas
matérias – de Folha e Estadão – é possível concluir que um dos objetivos da
imprensa é somente destacar aquilo que chama a atenção.
Essa pessoa é tão impactante
quanto um manifestante de esquerda ou anarquista que quebra patrimônio público
durante uma manifestação, por isso ganha destaque.
A mídia dá atenção porque o
fato impressiona inclusive os jornalistas.
Esses acontecimentos possuem
significados intrínsecos e, na hora da comunicação midiática, caracterizam todo movimento.
É uma consequência direta do enfoque e do objetivo da mídia corporativa; algo corriqueiro.
Porém, como o público
presente na Av. Paulista está acostumado a julgar, ao invés de ser julgado, acaba
indignado com os critérios e objetivos da mídia que a mídia na seleção dos fatos.
A esquerda também se
revolta, mas sabe que essa é uma postura normal da imprensa.
A direita não.
Ela quer vingança por achar
que está sendo traída pelos “petralhas” e “comunistas” da mídia que, na
verdade, por história e tradição, têm ideologia similar à deles.
É então que esses cidadãos
atacam jornalistas, motivados pelo radical e apaixonado clima da campanha
eleitoral.
Em seu orgulho ferido, esquecem,
porém, que ao perseguir jornalistas, atentam justamente contra a liberdade de
expressão que necessitam para saírem sair às ruas e para pedir o Impeachment de
uma presidenta eleita democraticamente duas semanas atrás.
São detalhes da Democracia que os reacionários exigem para si, mas limitam para os demais
Uma característica do
conservadorismo brasileiro, sempre arraigado no egocentrismo e na ideia de
superioridade que ainda atrapalha e limita os direitos e liberdades civis de muitos coletivos sociais e cidadãos.
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