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Diogo Mainardi no programa em que supostamente discriminou nordestinos |
A denúncia que seis
deputados federais apresentaram hoje (06/10) contra o jornalista Diogo Mainardi
entra para a lista de episódios em que a liberdade de expressão supostamente ultrapassa
seus limites.
Comentando o sucesso
eleitoral de Dilma Rousseff no Nordeste do país, o jornalista fez declarações
que, segundo a representação dos deputados, poderia “incitar posições
discriminatórias e racistas na sociedade”.
Diogo disse que “o Nordeste
sempre foi retrógado, sempre foi governista, sempre foi bovino, sempre foi
subalterno em relação aos pobres durante a Ditadura Militar, depois com o
reinado do PFL, e agora com o PT”. “É uma região atrasada, pouco educada, pouco
instruída, que tem uma grande dificuldade de se modernizar, e se modernizar na
linguagem”, completou.
A mídia brasileira recentemente
foi palco de situações similares.
As declarações de Rachel
Sheherazade no SBT Brasil e de Levy Fidélix no debate da Record para candidatos
à Presidência demonstram que a liberdade de expressão deve ser usada com um
mínimo de cuidado para não afetar o direito de terceiros, consequência que determina
o único limite a esse Direito Fundamental.
Curiosamente, esses três
episódios foram protagonizados por figuras que se encontram no espectro
conservador da política – a famosa Direita.
Seria, portanto, um problema
da ideologia conservadora em si? Não exatamente.
Antes de nada, é
aconselhável lembrar que ideologia é o conjunto de ideias, pensamentos,
doutrinas e/ou visões do mundo.
O conservadorismo é historicamente
tradicional no Brasil. Como o próprio nome diz, essa ideologia se conserva.
Muitos de seus valores provêm
da insegurança em si mesmo e da fobia social, sentimentos que, somados ao
orgulho por cumprir certos padrões de comportamento e status exigidos pela
sociedade, motivam as pessoas a discriminar aqueles que não se encaixam nesse
perfil.
Assim sendo, a ideologia
conservadora tende a ser intolerante com quem supostamente é inferior na fantasiosa
hierarquia social.
Nordestinos, progressistas, gays,
favelados, negros e adeptos de religiões minoritárias, portanto, naturalmente
sofrem preconceito da tradicional sociedade brasileira.
O problema aumenta quando os
formadores de opinião dessa ideologia – entre os quais estão Sheherazade,
Mainardi e outros colunistas da Grande Mídia – abusam dos limites da liberdade
de expressão e, em um ato que carece de planejamento e/ou auto-crítica,
pronunciam palavras preconceituosas contra coletivos sociais em meios de
comunicação.
Essas palavras incentivam a
descriminação na sociedade brasileira, pois exercem influencia na ideologia dos
cidadãos, ou seja, no modo que as pessoas veem o mundo, o que contribui para
espalhar ideias preconceituosas.
Por isso a profissão de
jornalista envolve uma responsabilidade enorme.
E por isso os cursos de
jornalismo e comunicação social dão especial atenção à ética na profissão.
Sem o conhecimento e a
aplicação do Código Deontológico no jornalismo, o profissional tende a cometer
excessos que provém de sua própria ideologia.
Ou seja, discriminações na
mídia acontecem quando a visão do jornalista é privilegiada frente à ética
da profissão. Se fosse ao contrário, a ética motivaria o profissional a selecionar certas declarações em
detrimento de outras.
Logicamente essas
discriminações também acontecem na esquerda, mas possuem outro alvo, que
normalmente são pessoas com recurso e poder suficiente para acionar
judicialmente quem ultrapassa os limites da liberdade de expressão.
Por isso os jornalistas progressistas
não são denunciados por figuras públicas, mas sim processados pela pessoa
atingida.
Os alvos da direita, por
outro lado, costumam ser coletivos que necessitam a tutela do Estado. Então os excessos são denunciados a instituições, como aconteceu com Mainardi.
Os casos podem parecer
diferentes, mas a raiz é a mesma: a ideologia do jornalista.
Sem essa visão
que olha o próximo com preconceito, ninguém cometeria excessos.
Ou melhor, com uma visão –
ou ideologia - tolerante, respeitosa e compreensiva, o jornalista naturalmente
evitaria a discriminação.
O mesmo serve para cidadãos.
A chave para acabar com
discriminações é, portanto, superar a visão ideológica do mundo, pois ela incentiva
as pessoas a atacarem grupos que se opõem ao seu modo de ver o mundo ou que
atrapalham a implantação de políticas públicas ou sistemas de governo
determinadas pela própria ideologia.
As punições a jornalistas por
excessos dão boas lições, mas não cortam o mal pela raiz, pois a discriminação é
intrínseca ao homem. Somente a modificação mental do ser humano pode realmente
resolver um problema criado na consciência de uma pessoa.
Nesse sentido, é
aconselhável ampliar os valores democráticos.
Tolerância, respeito,
aceitação e compreensão da diversidade existentena sociedade são valores que
melhoram a convivência comunitária, enquanto as visões limitadas provenientes
de ideologias contrárias são mecanismos de divergência e contraste que motivam
a discriminação entre semelhantes.
Todo ser humano se encaixa
em uma ou outra ideologia.
Deve lutar para controlar a
mesma para evitar ser controlado por ela.
O mesmo serve para os
jornalistas, que, além de tudo, têm a responsabilidade de formar a opinião da
sociedade.
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