Foco na Mídia

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quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Globo e Magnoli denunciam (hipocritamente) a doutrinação de pessoas no Enem




Uma matéria publicada hoje n’O Globo destaca o debate entre acadêmicos sobre a “doutrinação” dos estudantes por meio das perguntas e respostas do último Exame Nacional de Ensino Médio – Enem 2014.

Segundo o texto, a discussão teve origem em um artigo de Demétrio Magnoli publicado na segunda-feira (10/11) no mesmo jornal carioca. Magnoli, aliás, aparece como fonte “especialista” na matéria d”O Globo junto com Simon Schwartzman, outro intelectual que simpatiza com o projeto neoliberal/conservador.

As denúncias de Magnoli falam que pelo menos seis questões teriam um viés que exalta a ideologia progressista através do “’antiamericanismo’, do ‘ódio’ à imprensa e das políticas racialistas ‘característicos’ dos governos da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, segundo o texto publicado hoje n”O Globo.

O curioso é que os próprios textos da Globo têm características que exaltam uma ideologia política: a conservadora, logicamente.

As técnicas de manipulação dos textos - como o uso e destaque de fontes “especialistas” que fazem declarações ideologicamente afins com o pensamento do jornal, a manchete que prioriza um juízo de valor altamente subjetivo e parcial e a falta de clareza na exposição das perguntas e respostas que supostamente doutrinam os alunos - são exemplos de que a crítica feita ao Enem serve perfeitamente à própria Globo e a Demétrio Magnoli, que são dois atores políticos cujo trabalho influi e, grande escala na formação de opinião da sociedade.

A análise dos “especialistas” críticos não está completamente equivocada, pois as perguntas do Enem são subjetivas, detalhe que condiciona as respostas conforme a visão ideológica do aluno.

Entretanto, com todo respeito a um dos maiores conglomerados de mídia do mundo, os textos publicados essa semana abusam da hipocrisia quando criticam o Enem por doutrinar cidadãos.

Um exame não exerce muita influência na ideologia das pessoas. Publicações da imprensa ou declarações de políticos, por exemplo, sim.

Isso porque ninguém forma opinião política enquanto realiza uma prova. O grande problema, nesse caso, é que os alunos de outras ideologias são induzidos ao erro por não entender, conhecer ou concordar com a visão progressista do mundo refletida nas perguntas em questão.

Por outro lado, textos como o de Magnoli ou a matéria d’O Globo são verdadeiros doutrinadores ideológicos.

Com um enfoque tendencioso e técnicas de manipulação ocultas, o leitor é “doutrinado” a pensar, sem perceber, que a ideologia progressista chegou ao Enem e atualmente faz lavagem cerebral nos alunos, pensamento que compactua perfeitamente com a ideologia conservadora da Globo e de Magnoli.

Essa ideologia costuma dizer que a esquerda vem dominando a mente dos alunos brasileiros. Mas são justamente textos como esses d’Globo, por exemplo, que induzem o leitor a acreditar numa determinada ideologia, enquanto a prova do Enem é um detalhe, uma questão mínima que não chega realmente a doutrinar mentes de alunos.

É certo que a doutrinação ideológica é consequência de qualquer comunicação constante e parcial, pois naturalmente influencia o receptor da mensagem a acreditar em uma das ideologias políticas.

Assim sendo, todo ator político, incluindo mídia, partidos, sindicatos, instituições, políticos, jornalistas, cidadãos, amigos, parentes e até o próprio Demétrio Magnoli “doutrinam” ideologicamente as pessoas. 

O Enem pode ser uma influencia, mas qual é o peso político de uma prova que acontece com grandes intervalos de tempo?

Não seria mais apropriado denunciar a doutrinação de atores políticos que atuam diariamente? Essa seria uma postura ética com o leitor, mas então a "doutrinação" conservadora que a Globo exerce diariamente ficaria desmascarada, então é melhor ficar quieto.

O PT, por exemplo, é outro ator que exalta uma ideologia - e a última Resolução do partido, que destaca a urgência em conseguir “hegemonia” na sociedade, é um exemplo disso. 

Acontece que a busca pela doutrinação ideológica é normal na disputa pelo poder, elemento básico da Política.

E, no Brasil, onde a polarização política domina a sociedade, essa intenção de convencer as pessoas de que uma ideologia é melhor que a outra é algo presente em praticamente todo lugar.

Essa intenção pode existir no Enem, mas é contraditório "denunciar" essa exaltação mínima de uma ideologia enquanto se ignora o fato de que outros atores - inclusive a Globo - promovem uma doutrinação ideológica mais profunda, eficiente, constante e imperceptível.

Para o cidadão, portanto, é aconselhável entender que, na Política, todos são doutrinadores.

Esse mesmo texto que você lê agora está influenciando sua ideologia, pois cria efeitos no seu conjunto de ideias e visão do mundo - ou seja, na sua ideologia em si.

Com essas palavras que você lê agora, provavelmente está imaginando que Demétrio é anti-ético, que a Globo manipula ou até que tudo dito anteriormente é mentira que provém de uma mente lavada pela ideologia socialista.

De uma forma ou de outra, essas palavras exercem influência na forma que você vê o mundo. O mesmo ocorre com os textos da Globo, da Carta Capital, da Veja; com as declarações de Aécio, de Lula, de jornalistas, amigos, parentes, etc. etc. etc.

O melhor, portanto, é compreender as virtudes e defeitos de cada ideologia, assim como as técnicas usadas para convencer pessoas, para estar livre de meias-verdades criadas por atores políticos interessados, que, longe de buscar o esclarecimento do cidadão, só pretendem realizar uma doutrinação ideológica dos mesmos para obter apoio político que será necessário em seu projeto de poder.

Um comentário:

  1. Doutrinação é o que a mídia e as TVs abertas fazem... Pingam o veneno no ouvido, gota a gota, dia a dia, sem que o envenenado disse se dê conta...

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