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Manchetes de hoje (30/09) dos principais jornais do país / Crédito: Paulo Cavalcanti |
Segundo pesquisa do Datafolha, Dilma Rousseff abriu 13 pontos de Marina Silva no primeiro turno. Nesse
cenário, as eleições não seriam definidas no próximo domingo. Porém, o PT ainda
tem 4 pontos de vantagem no segundo turno. Portanto as pesquisas apontam Dilma
na Presidência da República por mais quatro anos.
A provável vitória do PT nas
eleições desse ano desanimou o mercado, segundo os jornais da Grande Mídia. Suas
publicações dizem que a Bolsa de Valores teve a maior queda diária em três anos
e que isso é reflexo das pesquisas eleitorais.
A relação entre as pesquisas
e os resultados da Bolsa de Valores é contraditória no mundo político.
A intervenção do Estado na
economia e a situação econômica do país no Governo Dilma desagradam o mercado,
que mostra sua desconfiança quando as pesquisas apontam a continuidade do PT.
Por outro lado, existem
outras visões do fato. Em entrevista para a agência Reuters, Guido Mantega,
Ministro da Fazenda, atribuiu a queda na Bolsa à instabilidade no cenário econômico
internacional. Admitiu a influencia das pesquisas nos resultados da Bolsa, mas
considera que essa repercussão representa “uma parte pequena da flutuação”.
Com esse contraste de pontos
de vista, em quem o cidadão deve acreditar para ter uma visão mais geral e
imparcial da realidade?
Ora, tendo em vista que todos
– imprensa, mercado, Governo e povo - têm interesses bem definidos nessas
eleições, o ideal é acreditar em todos e em nenhum especificamente.
Assim sendo, é aconselhável
lembrar que somente jornais conservadores – ou seja, neoliberais – relacionam a
queda na Bolsa ao sucesso petista nas pesquisas eleitorais. Também é
interessante recordar que esses jornais defendem o projeto de Governo que
privilegia o mercado.
Um jornal progressista
dificilmente faria essa relação, pois seus valores o motivam a defender os
interesses do povo, que normalmente não correspondem diretamente com os
interesses do mercado.
A esquerda simplesmente não
publicaria algo que incentiva a adoção do modelo neoliberal no Brasil porque essas
ideias contrariam os valores de diminuição da desigualdade social que ela defende.
E é por isso que o assunto fica
extremamente contraditório. Cada visão oferece uma explicação diferente que
convém ao projeto que defende.
As teorias de liberais e
intervencionistas contrastam tanto quanto as de religiosos e evolucionistas.
Uma praticamente exclui a outra. Porém, a realidade é tão complexa que todos os
conhecimentos e pontos de vista são necessários para explicá-la.
Como cada grupo tira
importância da visão que se opõe à sua versão, a realidade será uma mistura
entre esses as distintas visões.
Obviamente o mercado não fica
feliz com o intervencionismo de Dilma. Com a aplicação desse modelo econômico
de esquerda, muitas empresas dependem de subsídios para continuar seu trabalho.
Além disso, a competitividade do mercado diminui com empresas estatais, pois
elas recebem mais privilégios dentro do país e, dessa forma, competem em
condições especiais que outras empresas não são capazes de enfrentar sozinhas.
Entretanto, a queda na Bolsa
causada pela desconfiança das empresas não deveria causar dúvidas nos cidadãos,
pois os interesses de ambos não correspondem.
O livre-mercado
comprovadamente não diminui a desigualdade social, circunstância que causa grande
parte dos problemas do Brasil. Portanto, se uma pessoa não tem interesse pessoal
no projeto neoliberal, nem precisa se preocupar com a queda que as pesquisas
eleitorais causam na Bolsa de Valores. Afinal de contas, uma vez escolhida a
Presidenta, o mercado encontrará suas fórmulas de continuar lucrando mesmo em
condições difíceis.
Dessa forma, somente quem
tem interesse nas condições criadas pelo livre-mercado deveria temer e evitar uma
possível eleição de Dilma. A Grande Imprensa defende essa ideia e por isso insiste em relacionar as pesquisas eleitorais com os resultados da Bolsa de Valores.
Por outro lado, quando os
jornais progressistas ignoram a relação entre pesquisas eleitorais e resultados
da Bolsa, encontram posteriormente uma forma de avisar seus leitores de que a vida deles realmente
não tem relação com o que as empresas defendem, pois a diminuição da
desigualdade social não acontece através do livre-mercado, proposto - como não
- pelo próprio mercado e, obviamente, pela Grande Imprensa, que sempre defendeu o neoliberalismo no Brasil.
Cada um defende o que
acredita. Se Dilma é ruim para o mercado, seus sujeitos devem apoiar outro projeto. E se o mercado é ruim para as pessoas necessitadas, as mesmas devem entender isso para poder apoiar
outro projeto.
Assim funciona a política. Que ganhe o melhor em seus argumentos.